terça-feira, julho 17, 2007

Levante Popular, uma experiência socialista nas barrancas do Velho Chico


O São Francisco Uniu o que o poder dominante insiste em desarmonizar
Brotaram-se os sonhos de uma sociedade igualitária, no franco acesso de luta plena e democrática e nos anseios que outrora despontara com desejo de "liberdade, igualdade e solidariedade". Em noites de céu aberto com chuvas de meteoros cruzando o horizonte, estrelados de candura, um banho de luar do Sertão, tenso, em madrugadas frias, orvalhadas. Eram luzes púrpuras no pé do Serrote do Gorgonho, em pleno canteiro de obras do projeto de transposição em Cabrobó. Na beira do rio-caatinga, em banhos de lágrimas plácidas do Velho Chico ferido. Bem no centro do acampamento uma praça de adornos caatingueiros com bandeiras a tremular, como se estivesse a apelar justiça por entre barracos de lona preta e, ao centro escrito com pés de arroz: “praça Truká”.

“A inestimável riqueza da experiência do acampamento, construído na diversidade dos povos e movimentos sociais, suas manifestações e práticas de trabalho, convivência, educação, arte e religião atesta o potencial de transformação e libertação do povo brasileiro. Essa experiência apontou para a possibilidade do socialismo atual e necessário”, assim vem sendo a avaliação descrita pelas organizações presentes. E por isso mesmo, após a ação judicial de despejo, o povo ali presente de maneira honrosa e cabeça erguida saíram para o assentamento Jibóia, para em seguida o Povo Truká retomarem outra terra e garantir que a demarcação de seu território ancestral seja homologada e exigir que o Exército brasileiro, braço armado dos Estado se retire imediatamente, uma vez que são eles os intrusos em terras Truká. O poder dominante age militarmente quando experiências como essas despontam na defesa de causas pelas quais lutam, que não buscam nenhuma vantagem pessoal, mas a justiça e a solidariedade.

A luta posta, não trata de qualquer reivindicação, os movimentos sociais brasileiros, como MST, MPA, MMC, CETA, CPT, CPP, MAB, Fóruns e Redes juntaram-se às forças com inúmeras populações tradicionais: barranqueiros, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, vazanteiros, brejeiros, catingueiros e geraiseiros, propõem claramente o arquivamento imediato do falacioso projeto de transposição e defende outros projetos mais baratos e menos onerosos, o Projeto Popular de Desenvolvimento Sustentável para a Bacia do São Francisco com uma verdadeira Revitalização e o Projeto de Convivência com o Semi-Árido. Esses Projetos se contrapõem ao “programa de aceleração de crescimento” do governo, que a qualquer custo, passando por cima de tudo e de todos, insiste em implantar um desenvolvimento dominante que atende as necessidades da elite coronelícia brasileira. O Governo Federal insiste em fazer o projeto de transposição, com argumentos mentirosos e ainda envolve setores da Igreja como a da Paraíba a se posicionar em comitês a favor da obra. É o Estado e uma ala de uma Igreja de poder, induzindo rixa e insultos, como se indicasse para acirrar brigas e transformar o Nordeste em palco de discórdia, com interesses de fortalecer e enriquecer os bolsões dos latifundiários, coronéis e condutores do agro e hidronegócio.

Todavia, é importante considerar, que as forças a favor desta obra mentirosa, conhece muito pouco do semi-árido e muito menos conhece da situação do Rio São Francisco. O bispo que lidera o comitê pró-transposição, Dom Aldo Pagotto faz parte de uma ala de direita da Igreja que não respeita Movimento Social e não tolera Pastoral Social, pode-se dizer que esta ala em tempos de colonização sempre foi e assim o é, o braço forte do poder, a história parece se repetir. Governadores dos Estados do Setentrional usa deste braço de poder hegemônico para continuar o processo de recolonização em tempos contemporâneos, onde os oprimidos são os pobres, em especial os negros e os índios, além da natureza das coisas. É preciso lembrar que é necessário coragem para fazer a Evangélica Opção Preferencial pelos pobres e pela justiça. Vale lembrar a corajosa opção de Dom Hélder Câmara, Dom Maria Pires, Dom Francisco Austregésilo, Dom Pedro Casaldáliga, Frei Luiz Cappio que pela vida, teve o corajoso gesto na greve de fome de doar a vida ao Rio São Francisco, aos pobres deste lugar e aos pobres do semi-árido que nunca terão a chance, como já é hoje, de desfrutar das águas já acumuladas no setentrional. Não a Transposição, conviver com o semi-árido é a solução!

São Francisco Vivo: Terra, Água, Rio e Povo!

Alzení Tomáz
CPP NE - Conselho Pastoral dos Pescadores
Articulação Popular Baixo São Francisco