segunda-feira, março 19, 2007

Manifestantes enterram a transposição na porta do Ministério da Integração

Brasília - Cerca de 500 pessoas que participam do acampamento “Pela vida do Rio São Francisco e do Nordeste, contra a transposição”, em Brasília, fizeram hoje (15) caminhada pelas ruas da cidade e ato na entrada do Ministério da Integração (MIN). O grupo pede o fim do projeto de transposição e a revitalização da Bacia.

O cortejo era anunciado por um manifestante vestido de São Francisco, acompanhado por pessoas amordaçadas e outras que carregavam uma grande lona azul e seguravam fotografias da degradação da Bacia. O grupo deixou na entrada do MIN um caixão que simbolizava o enterro do projeto de transposição, velas acesas, água e carvão. Mulheres vestidas de ‘alimentadoras de alma’ - que em determinadas cidades do interior costumam rezar pelo morto – completavam a cena.

O ato pacífico foi interrompido por um incidente quando uma das portas de entrada foi quebrada. A passeata seguiu até a frente do Congresso Federal, onde policiais prenderam um dos manifestantes que se feriu na hora do tumulto. Ronei da Silva Fonseca, 35, foi levado para uma delegacia da Polícia Federal, onde foi autuado.

O advogado que acompanhou o caso, Isac Tolentino, da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), da Bahia, disse que nem ele e nem o acusado assinaram o depoimento. O documento não teria sido fiel às declarações de Ronei, que pagou fiança de R$ 100 e vai responder em liberdade.

Além de tomar essa atitude precipitada, policiais quebraram, sem motivo algum, as flechas de um índio idoso, que também protestava pela não-transposição. Em meio ao incidente ainda foram identificados no grupo, pela coordenação do acampamento, dois homens que não faziam parte de nenhuma das organizações e movimentos presentes.

Governo não debate com a sociedade
O objetivo da manifestação foi chamar a atenção do poder Executivo, que não tem dialogado, com as lideranças dos movimentos e organizações sociais, sobre o projeto de transposição. Hoje, durante audiência pública na Câmara Federal, mais uma vez os representantes do governo não apareceram e não justificaram a ausência no debate.

O momento foi solicitado pela Subcomissão Especial de Acompanhamento do São Francisco, que faz parte da Comissão de Direitos Humanos. Além dos deputados presentes, auditório lotado e 50 representantes do acampamento, a mesa de debate foi formada por Luciana Khoury, coordenadora das Promotorias de Justiça do São Francisco - Ministério Público da Bahia, João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Abner, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Nilson Pinto, presidente da Subcomissão.

Os parlamentares começaram a se manifestar sobre o assunto desde a semana passada, quando iniciou os preparativos do acampamento. Desde então já foram criadas: a Frente Parlamentar para Transposição, por Marcondes Gadella (PPB/PB); Frente Parlamentar para a Revitalização, proposta por Fernando Ferro (PT/PE) que tem se mostrado favorável a transposição; Frente Parlamentar pela Revitalização, Valadares Filho (PSB/SE); Frente Parlamentar pelo São Francisco, Edson Duarte (PV/BA); além da Subcomissão que foi requerida por Iran Barbosa (PT/SE) e Juvelino Alvez (Sem partido/ MG).

No período da tarde, representantes do movimento a favor do São Francisco se reuniram com os ministros do STF, Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. Até o início da noite a comissão aguardava audiência com o presidente do Senado, Renan Calheiros. Na pauta, o projeto de transposição do São Francisco e as iniciativas das comunidades tradicionais e das populações locais pela convivência com o semi-árido.