terça-feira, abril 29, 2008

Conferência contra a transposição reúne Dom Cappio e povos do São Francisco

Cerca de 300 pessoas participaram da Conferência com Dom Luiz Cappio neste dia 26 de abril em Paulo Afonso-BA com o objetivo de debater sobre os impactos da transposição no Rio São Francisco e as alternativas de convivência com o semi-árido. Na oportunidade, foi lançado o livro do professor Juracy Marques e um vídeo intitulado Frei Luiz: um dom da Natureza. Memórias afetivas do seu jejum em Sobradinho. “Os escritos de Juaracy são marcantes e sensíveis porque ele descreve aqueles momentos vividos em Sobradinho, mas, descreve principalmente os sentimentos de sua alma naquela ocasião”. Disse Dom Luiz. O Bispo realizou um Jejum durante 25 dias na cidade de Sobradinho com o propósito de barrar as obras da transposição.

A Conferência reuniu diversas entidades populares, pastorais, igrejas, movimentos sociais, ongs, estudantes, educadores, universidades e comunidades tradicionais das regiões do Sertão da Bahia, Alagoas e Pernambuco. Um momento importante na plenária foi a fila do povo, onde muitos dos participantes tiveram livre a oportunidade de denunciar os problemas que afetam o São Francisco nesta região de beira rio-caatinga.

As principais dificuldades apresentadas apontaram para um rio condenado. Os participantes denunciaram que o modelo de desenvolvimento implantado vem trazendo impactos que compromete a vida do rio. A exemplo das grandes barragens que até hoje trás conseqüências irreparáveis: a perda dos territórios, perda da identidade, falta de cheias que não permite mais a manutenção da biodiversidade e principalmente a manutenção do pesca artesanal nesta região. A irrigação intensiva degrada o meio ambiente, polui e envenenam as águas e os alimentos. A piscicultura, longe de ser uma alternativa de emprego e renda como é pregada, ela intensiva, vem poluindo as águas, obrigando muitos a perderem as terras de beira rio, além de trazer ameaças contra os pescadores artesanais. A falta de uma reforma agrária efetiva e a falta de demarcação dos territórios indígenas, quilombolas e pesqueiras foram alguns dos problemas mais discutidos pelos participantes.

A questão da transposição levou mais tempo de discussão na conferencia. Dom Luiz, fez um histórico de sua trajetória são franciscana e apresentou as principais razões que o coloca contra o projeto de transposição, o que significa esta obra para o rio e o povo do semi-árido e as conseqüências desta para o rio já em estado de calamidade.

Sua fala apontou para uma obra imposta e militarizada, que envolve falsas promessas de que “vão levar água pra quem tem sede e que trará prosperidade, emprego e renda”. A verdade, disse dom Cappio, “é que a transposição aprofunda a indústria da seca, é uma obra injusta e enganosa. O governo já admite que a transposição tem a finalidade principal de levar água para os grande projetos de irrigação e industria, que produzirão para o agronegócio de exportação. A água não beneficiará quem realmente necessita dela, como as populações difusas – espalhadas nas caatingas, essas nunca sentirão o gosto dessa água. Mas, são as populações que pagaram o preço dessa água que chegará muito cara”. As obras da transposição custarão cerca de 6,6 bilhões de reais até 2010.

O que se propõe no lugar da transposição é a democratização do acesso a água que deve ser uma política pública prioritária, em todo o Semi-árido. Propõe-se uma revitalização verdadeira com um amplo e coordenado programa exaustivamente discutido com a sociedade e a ciência e submetido a rigoroso controle social. É a Convivência com o Semi-árido como fundamento de desenvolvimento e com acesso a terra e a água, além das inúmeras tecnologias apropriada para o semi-árido, que trará mais eficiência, menos custos e mais justiça para o povo do Rio São Francisco e o povo do semi-árido brasileiro.

A Conferência apontou para a continuação das lutas contra a transposição e a ampliação desta discussão na sociedade.


Pelo Fórum de Articulação Popular em Defesa do Rio São Francisco.
Alzení Tomáz – Conselho Pastoral dos Pescadores e Articuladora do Fórum.