segunda-feira, setembro 29, 2008

Manifesto da Foz


Nos ventos da madrugada, uma voz clama justiça:

“Deixe a gente em paz! Não tire nossa terra. Não tire nossa água. Não tire nossa alma”.


foto: João Zinclar


Data: 09 de outubro de 2008

Local: Praça Pública em Brejo Grande/SE


Programação:


8:00 – Chegada

9:00 – Acolhida às comunidades do baixo, Mística de Abertura e apresentação da programação

9:30 – Plenária: Situação do Baixo e o clamor da Foz (declarações populares)

  • O Rio está morrendo pela sua Foz
  • As comunidades tradicionais e a manutenção de seus territórios do Sertão à Foz
  • O Papel das Organizações Populares na Defesa do Meio Ambiente e do Baixo São Francisco.

11:30 – Lançamento do Livro: Dom Távora (Pe. Isaias), Lançamento da Cartografia Social da Comunidade de Resina (Juracy Marques).

12:00 – Caminhada até o Rio, Mística e Lançamento do Manifesto da Foz

13:00 – Encerramento - almoço partilhado



Os participantes trarão faixas e símbolos de suas lutas e instrumentos de trabalho



São Francisco Vivo: Terra, Água, Rio e Povo!


terça-feira, setembro 23, 2008

Rede de Educomunicadores Populares fortalece a luta em defesa do Velho Chico



Um círculo de pessoas, sentimentos, lutas e expectativas diversas. Dentro deste círculo, “ocupando” o mapa do rio São Francisco, livros, artesanato, fotografias, instrumentos musicais e produtos culturais que representam a luta em defesa do rio São Francisco e do seu povo.


Assim teve início o Encontro de Educadores e Comunicadores Populares da Bacia do São Francisco, realizado entre os dias 19 e 21 de setembro, no Centro Jesus Mediador, em Lauro de Freitas (Bahia).


Cerca de 60 militantes de movimentos sociais, ONG’s, rádios comunitárias, grupos de teatro e educadores populares das quatro regiões da Bacia do São Francisco (Alto, Médio, Sub-Médio e Baixo) trocaram experiências de educação e comunicação, com o objetivo da formação de uma Rede de Educomunicadores Populares.


A importância da Comunicação Popular como ferramenta estratégica nas lutas em torno do rio São Francisco, mobilizando comunidades e criando meios alternativos de comunicação, foi destacada durante o Encontro.


A construção coletiva foi um dos muitos pontos positivos do Encontro. Os participantes se dividiram em grupos responsáveis pelo andamento das atividades, não sobrecarregando a organização nas mãos de poucos: Relatoria e Registro; Animação; Mística; Limpeza dos espaços; Noite Cultural; além de uma Coordenação Geral, com um representante de cada região.


Debates sobre Comunicação como um direito humano, relação entre comunicação e movimentos sociais, conceitos e formação de redes foram importantes para a formação dos comunicadores populares. Durante o Encontro também foram realizadas oficinas coletivas, com dois objetivos: pensar e desenvolver meios de comunicação que possam ser utilizados pela Rede e formação de multiplicadores.


Na noite do dia 20, os participantes apresentaram os produtos: a oficina de vídeo produziu um documentário de cinco minutos sobre o rio São Francisco; o grupo de rádio fez um programa de quatro minutos sobre a importância da Rede para a luta pela revitalização do Velho Chico; um Jornal Mural com notícias e experiências de lutas foi o resultado da oficina de produção textual; e duas peças teatrais foram realizadas pelas oficinas de Educação Popular e Teatro de Rua.


Entre as ações da Rede está a criação de um sítio na internet, onde serão disponibilizados programas de rádios comunitárias, fotografias de manifestações, documentários sobre as questões de interesse dos trabalhadores e matérias sobre o andamento das lutas nas quatro regiões da Bacia do São Francisco.


O último dia do Encontro foi o momento de proposições para a criação da Rede e encaminhamentos finais. Após discussões em grupos, a Plenária definiu o nome da Rede: Rede de Educomunicadores Populares da Bacia do São Francisco, que está organizada em cinco frentes: rádio, on-line, teatro, audiovisual e educação popular.


Para dar continuidades aos trabalhos da Rede, Encontros Regionais serão realizados até o final do primeiro semestre de 2009, pois no segundo semestre acontecerá o 2° Encontro de Educomunicadores da Bacia do São Francisco, com o objetivo de avaliar esse primeiro ano de atividades e encaminhar outras tarefas na luta em defesa da terra, água e povo do rio São Francisco.


Por Paulo Victor

Estagiário de Comunicação da CPT Juazeiro.

quarta-feira, setembro 17, 2008

5ª Romaria das Águas de Sobradinho - Programação

Entrega do Prêmio Pax Christi Internacional
a D. Luiz Cappio e ao Povo do São Francisco e do Semi-Árido
5ª Romaria das Águas de Sobradinho
Sobradinho, 16 a 19 de Outubro de 2008

Tema: ÁGUAS PARA A PAZ (cartaz)

Programação

Dia 16 (5ª f.)
Sessão na Câmara Municipal
- tema da romaria e do seminário
- participante: povo de Sobradinho

Dia 17 (6ª f.)
1. Seminário “Revitalizar o Rio para a Vida em Paz”
- participantes: 100 pessoas da região, representantes das organizações populares e movimentos sociais
- local: Centro Comunitário Antonio Conselheiro
- hora: 8h00 às 18h00
- 4 sub-temas tratados em mesas com explanações e debates:
1) Terra e território (responsável – CPT Regional)
2) Água e meio-ambiente (ASA)
3) Educação e cultura (IRPAA)
4) Produção e economia solidária (CooperCUC e SASOP)
2. Coletiva de Imprensa
- local: Capela de São Francisco
- hora: 13h30
3. Celebração Eucarística
- lançamento do Dia Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar
- local: Capela de São Francisco
- hora: 19h00
4. Noite Cultural
- apresentações artísticas regionais e filmes sobre a luta do São Francisco, Conferência de Sobradinho, o Jejum...
- local: Ginásio de Esportes (?)
- hora: 20h30
- responsável: PJMP de Sobradinho e FACS – Fundação Arte e Cultura de Sobradinho

Dia 18 (sab)
1. Dia Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar
- local: Capela de São Francisco e mundo afora...
- hora: 6h00 – 24h00
2. Celebração Inter-religiosa
- local: a definir...
- hora: 20h00
3. Caminhada
- início: local da celebração inter-religiosa (21h30)
- término: Porto (Chico Periquito) (24h00)
- paradas: (4) com gestos simbólicos e falas de representantes dos premiados – pescadores, indígenas, geraiseiros, catingueiros (da Bacia do SF), 4 estados do Nordeste Setentrional e Salvador, alguém pelas personalidades...

Dia 19 (dom)
1. Entrega do Prêmio / Celebração de Encerramento
- início: 00h00
- término: 01h00
- símbolos das caravanas
- fala da Pax Christi
- fala de D. Luiz
- partilha do pão (marco do encerramento do Dia de Jejum)
- despedida
2. Show
- início: 01h30
- término: 03h00
- responsável: Gogó e Banda Fé e Axé

Águas para a paz - Dom Luiz Cappio recebe prêmio internacional.

A relação entre os usos das águas e a paz é tema de romaria, caminhada, seminário, debates, manifestações culturais e dia mundial de jejum coletivo na entrega do Prêmio Pax Christi International.

Salvador - Entre os dias 16 e 19 de outubro, milhares de pessoas são esperadas em Sobradinho, norte da Bahia, durante a 5ª Romaria das Águas e entrega do Prêmio pela Paz da Pax Christi Internacional (2008 Pax Christi International Peace Award), ao bispo Dom Luiz Cappio e às organizações e movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais, envolvidos na luta pela revitalização e contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco.

A programação inicia no dia 16, à noite, com uma sessão solene na Câmara Municipal. O Seminário Revitalizar o Rio para a Vida em Paz, abre a sexta-feira (17) com a participação de representantes das comunidades e organizações populares daquela região. As palestras e debates sobre modelo de desenvolvimento terão foco na revitalização popular, aquela a partir dos problemas dos ecossistemas e das necessidades reais e iniciativas das comunidades, como instrumento para uma cultura de paz. No mesmo dia, à noite, uma Celebração Eucarística na Capela de São Francisco deve relembrar os 24 dias de jejum de Dom Cappio, entre novembro e dezembro de 2007. Na ocasião será lançado o Dia Mundial de Jejum pela Paz e Soberania Alimentar.

Este dia de jejum acontecerá durante o sábado (18). O gesto chama a atenção para a tendência mundial em concentrar a produção agrícola em grandes empresas e com altas tecnologias, agora potencializadas pelos combustíveis de origem vegetal, em detrimento da produção alimentar e da agricultura camponesa, com graves riscos ambientais. Ao mesmo tempo questiona o modelo de consumo egoísta e alienado - um dos fatores responsáveis pelo escândalo da fome no mundo e pelo agravamento da crise ecológica. Encerrado o dia de jejum com a entrega do Prêmio Pax Christi, às margens do Rio São Francisco, ao pé da Barragem de Sobradinho, espera-se a adesão de centenas de grupos e milhares de pessoas em Sobradinho, em outras cidades, estados brasileiros e mundo afora.

No Brasil, em particular, toda a programação questiona os grandes projetos na Bacia do São Francisco, além da transposição, a expansão indiscriminada do agro e hidronegócios, agrocombustíveis, novos perímetros irrigados, mineração e siderurgia, barragens, usinas, ferrovias, minerodutos, etc. Bancados com incentivos e recursos públicos, minimizam não os impactos, mas as responsabilidades pública e privada com as graves conseqüências sociais e ambientais.

A entrega do prêmio começa com uma celebração inter-religiosa, ainda no sábado a noite, às 20h. Líderes católicos estarão juntos com pastores de várias igrejas cristãs, mães-de-santo e pajés indígenas. Um testemunho vivo da paz como fruto das relações de respeito e convivência harmoniosa entre diferentes mas iguais.

Ao término da celebração romeiros seguem em caminhada durante três horas, por cerca de quatro quilômetros. Ao longo do percurso, quatro paradas marcarão a vigília de todos pela paz, com depoimentos de representantes dos demais premiados além do bispo Dom Luiz Cappio.

A chegada às margens do rio São Francisco, deve acontecer no início da madrugada e será o momento final. Uma representante da Pax Christi Internacional estará no Brasil para fazer a entrega do prêmio a Dom Cappio e a representantes do povo, como expressão do reconhecimento e incentivo à continuidade da luta popular em defesa das águas, da terra e de toda a vida.

O prêmio

O Prêmio pela Paz é outorgado por Pax Christi Internacional, anualmente desde 1988, a homens e mulheres que defendem a paz e a não-violência em qualquer parte do mundo. Dom Cappio é o terceiro brasileiro a receber. O primeiro foi a sindicalista Margarida Alves, que recebeu postumamente, em 1988. O segundo foi o membro do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Sérgio Vieira de Mello, morto vítima de um atentado terrorista no Iraque.

Dom Luiz Flavio Cappio, bispo da diocese de Barra (BA), escolhido para receber o prêmio em 2008 convive há mais de 30 anos com as comunidades do São Francisco. Entre 1993 e 1994 fez uma peregrinação de um ano entre a nascente e a foz do rio, denunciando seu estado deplorável e animando as comunidades à luta em sua defesa. Em 2005 e 2007 fez dois jejuns pela revitalização e contra o projeto de transposição. A entrega será marcante também por acontecer no Brasil e pela primeira vez fora da sede européia da Pax Christi.

A Pax Christi Internacional

A Pax Christi Internacional foi fundada na França, em 1945, como um movimento de reconciliação entre franceses e alemães após a Segunda Guerra Mundial. Constitui-se em movimento católico e uma Rede pela Paz, Respeito aos Direitos Humanos, Justiça e Reconciliação em regiões devastadas por conflitos. Baseia-se na crença de que a paz é possível e que os círculos viciosos da violência e da injustiça podem ser quebrados. Hoje conta com mais de 100 Organizações-Membro e atua em mais de 50 paises dos cinco continentes. No Brasil seu representante é a Comissão Pastoral da Terra – CPT. A Pax Christi tem status consultivo junto à ONU, à Unesco e ao Conselho da Europa.

Os proponentes

A entidade que encabeçou a proposição de Dom Luiz Cappio para o prêmio foi o SERPAJ – Serviço Paz e Justiça. O líder dessa organização é o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, artista argentino que se notabilizou pela luta em defesa dos Direitos Humanos na Argentina e na América Latina. A ele se somaram mais de cento e cinqüenta (150) representantes de quase uma centena de movimentos e organizações sociais, reunidos na Conferência dos Povos do São Francisco e do Semi-Árido, entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2008, em Sobradinho.

Maiores informações:

Clarice Maia – Comunicação Articulação São Francisco Vivo: (71) 3328-4672 / 9236-9841

Ruben Siqueira – Comissão Pastoral da Terra (71) 3328-5750 / 9208-6548

Luciano Bernardi – Comissão Pastoral da Terra (71) 3328-4672

Cristiane Passos – Comunicação Comissão Pastoral da Terra: (62) 4008-6406

Paróquia de Sobradinho – 74.3538-2432 / P. João Sena – 9962-6845

CPT Juazeiro – 74.3611-3550

E-mail: sfvivo@gmail.com

sábado, setembro 06, 2008

Camponeses ocupam prefeitura

Cerca de 50 Camponeses e camponesas dos Grupos de base MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores ocuparam na manhã de hoje a Prefeitura Municipal de Cacimbinhas - AL. Os representantes de diversos grupos de base do MPA cobraram do Prefeito providencias referente aos problemas que as familias camponesas vem emfrentando em suas comunidades na area da Energia Eletrica, os pontos reivindicados foram os seguintes:Iluminação Publica, as familias pagam a taxas altas mas nos postes não tem nem uma lampada.

Manutenção da iluminação publica onde ja foi colocado lampadas, pois algumas receberam mas não tem manutenção.

Outro Problema vivenciado pelos camponeses são os transfordores com baixa potencia em horario de pique a partir das 6:00h da tarde as televisões, geladeiras e outros aparelhos não funcionam, casos em que os aparelhos queimaram.

Outro ponto reivindicado foi a implantação da tarifa social de consumo de energia no estado de Alagoas ja que outros mucipios ja estão se mobilizando.
Durante a negociação o Prefeito se comprometue em resolver a questão da iluminação publica em 15 dais. Tambem se comprometeu a participar de uma audiencia na Sub-estação de da CEAL ( Companhia Energetica de Alagoas) para discutir a implantação da tarifa social e resolver os problemas dos transformadores. Ficou emcaminhado que o MPA fara um estudo e uma prosposta de taxa de iluminação publica para o municipio.

José Hélio
MPA - Luta Camponesa, Soberania Alimentar e Poder Popular!

quarta-feira, agosto 27, 2008

Missa de Mozeni, o Guerreiro da Paz Truká

Nesta próxima sexta-feira será a Missa de sétimo dia da morte do Guerreiro Mozeni Truká, que foi assassinado por crime de mando neste ultimo sábado dia 23/08 em Cabrobó. O Povo Truká está em luto. Não poderá cessar tamanha dor, mas, através dela, transformarão suas vozes em gritos ávidos de justiça e, ainda, da dor conseguirão transforma-la em LUTA. Nós poderemos somar à estas vozes.

A Missa e o ritual índigena será às 16:00 na Ilha de Assunção.

Contamos com o apoio de tantos que seguem em solidariedade ao Povo Truká e a sua luta.

terça-feira, agosto 26, 2008

MANIFESTO DAS ORGANIZAÇÕES SOLIDÁRIAS AO POVO TRUKÁ


“Morre o homem, mas não morrem os sonhos” (Neguinho Truká)



“A exemplo de Xicão Xukuru, o sangue das lideranças indígenas que escorrem fecundam a terra e faz nascer novas lideranças” (Zé de Santa – Vice-Cacique Xukuru)





Uma intensa tristeza se abate sobre todos os povos do Nordeste: foi brutalmente assassinado, no dia 23 de agosto de 2008 mais uma grande liderança indígena Truká: Mozeni Araújo. Este dia é mais um dia de sangue para o povo Truká. Mozeni Araújo foi abatido covardemente na cidade de Cabrobó por um pistoleiro, a crime de mando, em razão da luta histórica de seu povo pela efetivação de seus direitos. O assassinato é mais uma tentativa de fragilizar, fragmentar e desarticular o processo de organização dos povos indígenas. Mozeni exercia um papel primordial de ponderação, como facilitador, nos momentos de resolução de conflitos nas lutas enfrentadas e sua morte é resultado de uma ação premeditada, que busca silenciar a voz Truká.


Os Truká, no arquipélago de Assunção na cidade de Cabrobó, vêm se organizando há mais de 70 anos para retomarem seu território e concretizarem o sonho dos seus ancestrais. Esse processo de retomadas se inicia na década de 80 e se acelera na década de 90. A retomada realizada em 1999 é divisor de águas para demarcação e homologação em grande parte do território, e como conseqüência surge uma série de ameaças e violência contra os Truká. Além do embate com posseiros, o Povo representa forte resistência contra grandes projetos desenvolvimentistas, como a transposição do rio São Francisco, onde o território Truká encontra-se invadido pelo Exército brasileiro, e as barragens de Pedra Grande e Riacho Seco, que poderão trazer grandes impactos para a região (“Tudo isso é uma serpente. A cabeça tá nos nossos irmãos Truká e Tumbalalá; aqui, no Povo Anacé, está o rabo que é onde tá o pior veneno” - João, do povo Anacé, no Ceará, referindo-se à transposição).


É nesse contexto da resistência heróica às fortes pressões imprimidas contra esta comunidade que se inserem os motivos e interesses que envolvem o assassinato de Mozeni Araújo, assim como foi o brutal assassinato da liderança Truká Dena e de seu filho Jorge, com apenas 17 anos, no dia 30 de junho de 2005, estes assassinados por 4 policiais militares que estavam à paisana. Dena como Mozeni eram lideranças importantes nos períodos das retomadas de terra.


Quando não são assassinadas, as lideranças são vítimas de um sistemático processo de criminalização com o forte aval de segmentos do Estado brasileiro, principalmente, por instituições ligadas ao sistema de justiça. Os caminhos da criminalização e violência se estendem a outros povos indígenas no Nordeste e no Brasil, destacamos: Xukuru de Pesqueira, os Indígenas da Raposa Serra do Sol, os Guarani em Mato Grosso do Sul, os Cinta Larga em Rondônia e os Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe na Bahia.


“Nós que somos lideranças corremos este risco. Vivemos num País sem lei. Aqui se tira a vida de uma pessoa como se matam os passarinhos, principalmente em Pernambuco. É preciso que o mundo possa nos ajudar. Hoje se não bastasse matar nossas lideranças ainda tem o processo de criminalização. Vivo cercado de dois seguranças, sobretudo depois que sofri um atentado e morreram dois jovens que andavam comigo”. (Marquinhos Xukuru ao desabafar e lembrar de seu pai - Xicão Xukuru - que teve sua vida ceifada por pistoleiros).


Há quinhentos anos que os povos indígenas são violentados nas terras do Brasil. Escravizados, perseguidos e mortos, tiveram que silenciar por séculos suas identidades indígenas como estratégia de sobrevivência. É visível o nível de vulnerabilidade das lideranças indígenas, constantemente ameaçadas e mortas; a força do modelo político-econômico que violenta seus direitos; a impunidade sobre os crimes contra lideranças; a demora nos processos de demarcação e titulação-posse dos territórios indígenas, como é o caso dos Truká e dos Tumbalalá, aceleram ainda mais acontecimentos dessa natureza, apresentando-se como uma verdadeira estratégia de vulnerabilizar, desgastar e intimidar a luta dos povos indígenas.


“Hoje a gente sofre, com essa dor, mas tudo que Mozeni foi para o povo Truká, nós não vamos deixar cair. A história do povo Truká continua. Hoje tão matando o nosso povo, mas não vão conseguir. Como fez o seu avó Acilon Ciriaco, Mozeni deixou seus filhos, deixou seu povo e nós não vamos desistir não.” (Pretinha Truká).


MOZENI ARAÚJO era um homem de natureza terna e pacífica. Conhecido pela forma ponderada com que lidava com a intensidade dos conflitos iniciou muito jovem como liderança, construindo-se nas lutas pela retomada de seu território, em seguida, trabalhando como agente de saúde comunitário. Também era agricultor, logo cedo entrou na luta em defesa da terra, da água e do Povo Truká. Foi Vereador e atualmente era militante do PT e candidato a Vereador. Sua história não permite que os Truká se calem e sua passagem para o Reino dos Encantados nutre em seus herdeiros a força dos maracás.


Nós, diante deste crime repugnante, manifestamos nossa indignação e principalmente nossa solidariedade com a família de Mozeni Araújo e com o povo Truká. Exigimos as devidas investigações sobre os crimes cometidos e que os responsáveis respondam pelos seus atos. Exigimos que o Estado Brasileiro supere a violência neocolonizadora e venha garantir em sua integralidade os direitos fundamentais dos povos indígenas determinados nos tratados internacionais e legislação nacional.

Neste momento de dor, buscamos lembrar o que aprendemos com o povo Truká: seu grande espírito de luta!

NO REINO DE ASSUNÇÃO, REINA TRUKÁ!

ASSINAM ESTE DOCUMENTO:

APOINME, Articulação Popular do São Francisco, Articulação de Mulheres Trabalhadores da Pesca do Estado da Bahia, Articulação do Semi-Árido, MST, Movimento dos Pescadores da Bahia, MAB, MPA, NECTAS-UNEB, CPP, CPT, CIMI, AATR, IRPAA, AGENDHA, CENTRO MACAMBIRA, SINTAGRO, CONSEA – Petrolina, Centro de Cultua Luiz Freire, Plataforma DhESCA Brasil, EcoDebate, Câmara do Baixo do Comitê de Bacia Hidrográfica do São Francisco, CENDHEC-PE; Observatório Negro; Justiça Global.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Situação da Transposição

Diante da peça de marketing publicada no Estadão – Exército tira transposição do Rio São Francisco do papel – cabem alguns esclarecimentos para todos que se interessam sobre o assunto:

1. O Exército é responsável por apenas 3% da obra. Realizou 1/3 de sua tarefa. Portanto, todos podem calcular o que realmente já foi feito e o ritmo da obra.
2. A transposição, em cálculos modestos, já consumiu cerca de 600 milhões de reais em consultorias, projetos, assessorias, obras, etc. Esse dinheiro daria para ter feito 20% das adutoras previstas no Atlas do Nordeste.
3. Quanto à revitalização, o governo está realmente investindo em saneamento nas cidades ribeirinhas. Mas essa é uma bandeira da sociedade civil, embora não queiramos retirar os méritos de ninguém, sequer do governo. O governo assumiu a revitalização como moeda de troca da transposição. Nós vamos tentar organizar uma rede ao longo do Vale para monitorar o investimento, já que é da tradição dos prefeitos “comer” o dinheiro do saneamento sem que as obras sejam realizadas.
4. Queremos relembrar que o saneamento é peça importante da revitalização, mas isolada de uma estratégia não vai surtir efeito. O problema maior do São Francisco é o modelo predador implementado no Vale que prossegue com maior intensidade agora com a possível implantação de 510 mil hectares de cana irrigada para o Bahiabio, sem falar nas barragens e da própria transposição.
5. O governo está fazendo investimento em abastecimento de água num raio de 10 km em cada margem do São Francisco. É a resposta às nossas críticas. Basicamente cisternas e “serviços simples” de abastecimento para pequenas comunidades. Ironia, as cisternas que os defensores da transposição dizem não servir para outras regiões, são a solução do governo para as margens do próprio São Francisco. Cidades que precisam de adutoras no Vale do São Francisco não estão vendo suas obras encaminhadas. Uma delas é Campo Alegre de Lurdes, Bahia.
6. Nem o governo federal, nem os estaduais, estão considerando a previsão da Agência Nacional de Águas que até 2015 milhares de municípios de todos os Estados do Nordeste poderão entrar em colapso hídrico se certas obras – basicamente adutoras –, não começarem a ser feitas agora. Portanto, as opções de agora terão conseqüências terríveis em poucos anos.
7. O ministro Geddel utilizou o dinheiro do saneamento para “puxar” os prefeitos para seu partido. Vai ter implicação nas eleições estaduais na Bahia em 2010.
8. Os movimentos sociais não se calaram como diz a matéria do Estadão. Aqueles que concordam agora, já concordavam antes. Apenas temos nossas estratégias e voltaremos na hora adequada.
9. Para quem não sabe, Frei Luis recebeu o prêmio da Pax Christi Internacional como defensor dos direitos humanos e vai receber o prêmio em Sobradinho, na Romaria das Águas no dia 18 de Outubro. O prêmio é para fortificar a sua e nossa luta.
10. São Francisco vivo: terra e água, rio e povo.

Roberto Malvezzi (Gogó)

sexta-feira, agosto 08, 2008

Fórum de Articulação Popular do Baixo São Francisco

Encontro dos Educadores e Comunicadores Populares

Data: 22 a 24 de Agosto de 2008

Local: Convento São Francisco em Penedo-AL

OBJETIVO

Consolidar a Rede de Educomunicadores Populares do Baixo São Francisco

OBJETIVO ESPECÍFICO

  • Construir Mapa de Atuação, Experiências e Veículos dos Educomunicadores partindo dos Processos de atuação nos Núcleos de Articulação Popular
  • Ajudar na formação de sistematização de informações
  • Utilização de veículos de comunicação

PROGRAMAÇÃO

Dia 22/08

17:00 – Chegada

18:00 – Jantar

19:30 – Abertura, Apresentação e Dinâmica de Entrosamento

Dia 23/08

07:00 – Café

07:30 – Mística e Dinâmica de Comunicação

8:00 – Mapa de Atuação – contexto da bacia - construir coletivamente: Onde estamos, O que fazemos, Como fazemos, Maiores Problemas

10:00 – Lanche

10:30 – Mapa das Experiências: Intercâmbio de Experiências de Educomunicação Popular (Fichas): museu popular, cartografia social, teatro, programas de rádios, etc.

12:00 – Almoço

14:00 - Mapa dos Veículos: Identificar os veículos de comunicação que dispomos para divulgar: uso do computador, internet, blog, uso de rádio, uso do teatro, boletim informativo, etc. (Fichas).

Aprendendo a Sistematizar as Informações: escolher casos para sistematizar noticia e socializar no Boletim (Usar a Cartilha)

Noite: Forró Comunicativo e Cultural

Dia 24/08

07:00 – Café

08:00 – Mística e dinâmica de comunicação

09:00 – Consolidação da Rede: incorporar no mapa construído a estratégia que vamos usar pra fazer comunicação popular em torno das questões do São Francisco

Aplicação prática do Uso da Cartilha dos Educomunicadores nas reuniões e encontros

Encaminhamentos para o Encontro da Bacia

Agenda dos Educomunicadores

Avaliação e despedida

12:00 – Almoço e retorno

São Francisco Vivo: Terra Água, Rio e Povo!

sexta-feira, agosto 01, 2008

Notícias do Baixo São Francisco

Fórum de Articulação Popular do Baixo São Francisco – CPP NE - Julho de 2008

Reunião Equipes CPP e CPT
Reunião nos dias 09 a 11 de julho em Salvador entre CPP e CPT na Bacia do São Francisco discutiu a Identidade e Missão no trabalho específico da Articulação Popular da Bacia do rio São Francisco os principais desafios e organização junto às forças vivas do São Francisco. O encontro avaliou as ações de luta na Bacia, indicou a identidade do projeto a serviço da Articulação com o objetivo principal de Revitalização do Velho Chico. Rediscutiu planejamentos e metas a serem mais bem trabalhados junto ao Conselho da Bacia. A Reunião do Conselho está definida para os dias 07 e 08 de agosto em Salvador.



Cartografia dos Pescadores Artesanais do Cânion São Francisco
A Equipe da Articulação Popular e o NECTAS vem trabalhando junto aos pescadores artesanais do Cânion São Francisco entre Sergipe, Alagoas e Bahia a Cartografia Social. O trabalho vem apontando a identidade dos Pescadores e Pescadoras que exerce a atividade tradicional nesta região do Cânion, seus principais problemas e perspectivas. No trabalho georreferencial, os pescadores apontaram os desafios relacionados aos impactos das empresas na intensificação de criatórios de tilapia em tanque rede, a falta do pescado por causa das barragens e os prejuízos que poderão sofre com a criação da Unidade de Conservação Integral. “Os pescadores que já foram prejudicados com as barragens, se a gente for impedida de pescar por causa do Monumento, o rio vai ficar só pra turista e nós vamos poder pescar aonde?” Disse Nildo da Silva – pescador da toca do Pinga-Pinga no Cânion. Os pescadores ainda apontam as dificuldades da ação do poder público. “Ninguém está preocupado com pescador artesanal, nem o poder local, nem estadual, nem a SEAP, ele só vem impor a piscicultura mas, não tem interesse nenhum pelos pescadores que vive da pesca artesanal, é muito descaso”. Afirma o pescador Afonso de Delmiro Gouveia/AL.


Canoa de Tolda
Por uma Eco Vazão
A Articulação vem junto com Pescadores no Baixo São Francisco realizando discussão sobre a Situação da Baixa Vazão na Foz. Junto com a ONG Canoa de Tolda o diagnóstico da realidade aponta um verdadeiro caos na luta pela sobrevivência das populações ribeirinhas. No período de Baixa Vazão, a expedição de Canoa de Tolda constatou que neste período onde a Chesf regulou a vazão para 1.100 m3s abaixo das Barragens de Sobradinho e Xingó provocou um colapso hídrico irreparável. “A vazão é incompatível com qualquer sustentabilidade presente e futura demonstra o descaso do poder público, cujo único interesse é o de geração de energia e não de cuidado com o Rio e seu povo”. Afirmou Carlos Eduardo, membro da Sociedade Canoa de Tolda.

Os maiores prejuízos estão na falta do pescado, muitos peixes vem desaparecendo e a língua salina aumentando na região da Foz. Isso significa que o mar está avançando significativamente. A formação de barrancas de áreas, ilhas, o assoreamento e a queda das barrancas, demonstram que o rio vem se arrastando numa formação completamente errônea. A partir das falas populares um documento está sendo construído sobre os impactos da baixa vazão e os interesses por trás da regulação das barragens. O documento será utilizado como instrumento de discussão junto ao Comitê de Bacia e a Sociedade.

Relatório denunciará a ONU, impactos da transposição em áreas indígenas.
O projeto da transposição do rio São Francisco foi eleito pela APOINME como caso emblemático a ser analisado no informe paralelo que organizações indígenas estão elaborando para a OIT sobre a aplicabilidade da Convenção 169 no Brasil, por traduzir um determinado modelo de intervenção política desenvolvimentista que afronta diretamente os direitos territoriais e modos de viver de vários povos indígenas da Bacia do São Francisco.
A Articulação Popular do Baixo São Francisco juntamente com a ATR, o NECTAS e APOINME preparou plano de atuação no levantamento de dados para construção Cartográfica e relatorial de denuncia a ONU sobre os impactos das obras da transposição. Os territórios mais afetados foram priorizados para o trabalho, Povos: Truká/PE, Tumbalalá/BA, Tuxá/BA, Xukuru Kariri de Gloria/BA, Pipipã e Kabiwá/PE, Anacé/CE, Xocó/SE e Kariri-Xocó/AL.

Debate sobre Energia Nuclear na UNEB
No dia 17 de julho por ocasião do lançamento do Pólo Central de Pesquisa Agro ambiental e do Museu a Céu aberto do complexo arqueológico de Malhada Grande em Paulo Afonso, a UNEB sob a direção do Professor Juracy Marques promoveu um importante debate sobre Energia Nuclear. O propósito foi o de ampliar as discussões preventivas sobre as possíveis instalações de bases nucleares na Bacia do São Francisco. O deputado Edson Duarte/PV foi relator sobre Segurança Nuclear da Câmara Federal, Alzení Tomáz da Articulação Popular do São Francisco e o Professor Francisco de Assis do Departamento de Meio Ambiente, discutiram sobre o assunto. Um grupo anti-energia nuclear na região foi instituído pelo o NECTAS e Articulação do São Francisco para aprofundar a discussão.

Edumangue
Realizou-se nos dias 21 a 26 de junho de 2008 em Penedo o Encontro Regional de Educação em Áreas de Manguezais. O Encontro debateu sobre a Revitalização do Rio São Francisco, através de oficinas, palestra e mesas redondas os debates apontaram preocupações sobre a transposição do rio, o avanço da carcinicultura, criação de ostras, criação de tilapia e a introdução de espécies exóticas na bacia causando impactos violentos em áreas de manguezais. Os pescadores artesanais denunciaram o descaso do poder público à situação de degradação dos mangues e lagoas marginais em Sergipe e Alagoas e cobraram responsabilidade das autoridades na preservação dos ecossistemas manguezais.

Privatização das Águas Públicas
A Bahia Pesca realizou plenária nesta ultima sexta-feira (25) para tratar da cessão do uso de águas públicas para fins de criação de tilapia no São Francisco, a planária foi preparatória a I Conferencia Estadual. Contudo, a linha discutida é a do interesse de manter controle nos procedimentos de cessão e licenciamento para fins de piscicultura. Nenhuma discussão foi evidenciada quanto aos problemas para a pesca artesanal.

Um Manifesto dos Pescadores da Bahia denuncia que a cessão de uso das águas públicas nada mais é que a sua privatização das águas. O manifesto diz: “Hoje, estamos vivendo um dos momentos mais desafiadores da história dos pescadores do Brasil. Como se não bastasse o grande prejuízo que os ricos trouxeram para nossa pescaria com suas indústrias, barragens, fazendas de camarão, agrotóxicos... Agora, eles querem nos prejudicar muito mais: seus planos são PRIVATIZAR O MAR E OS RIOS! Querem implantar grandes fazendas de criação de peixe e cercar os lugares onde pescamos”.

Debate sobre Transposição em Paulo Afonso
No dia 24 de julho o professor João Suassuna realizou palestra com estudantes da UNEB sobre Transposição: Solução ou Problema. O debate fez parte da programação do evento dos estudantes do curso de engenharia de pesca da UNEB. O professor Suassuna, apresentou argumentos contra a obra e apontou elementos técnicos da falta de necessidade do projeto para as regiões do semi-árido.

Mutirão na Região de Caraíbas
Um mutirão realizado pelo MPA - Moviemento dos Pequenos Agricultores de Alagoas, visitou comunidades do Município de Caraíbas sobre impactos na região da extração de minérios efetivada pela Vale Verde, que desenvolve trabalho sem licença ambiental e sem nenhuma preocupação com os prejuízos causados as populações locais. O diagnóstico do mutirão será apresentado posteriormente.

Caso Resina
A Comunidade de Resina na Foz do São Francisco, município de Brejo Grande – SE vem sendo ameaçadas pelos fazendeiros da região e a empresa NORCON que pretende construir um risort na área da comunidade. Os fazendeiros estão intensificando as cercas, acurralando as famílias e pressionando aos poucos para que o povo se retire do lugar. “A estratégia dela é que agente se desgoste a saia de nosso lugar pra ir pra umas casas que eles estão dizendo que tão fazendo pra nós, mas, já dissemos pra eles que nós num vamos sair daqui, que aqui é nosso de direito”. Disse a pescadora Aparecida.

A Resina é uma Comunidade Tradicional de Pescadores Artesanais que sempre viveram historicamente neste lugar, viviam da agricultura e da pesca. Uma ação de denuncia foi encaminhada solicitando a regularização das terras públicas e o reconhecimento das mesmas para a comunidade tradicional. Contudo, a morosidade do poder público, INCRA e GRPU, além, da conivência do Governo do Estado, com a NORCON, Prefeitura local e fazendeiro da região vem emperrando o processo.

Audiência do Comitê de Bacia em Brejo Grande
Neste dia 30 de julho o Comitê de Bacia, realizou audiência pública sobre a intenção do governo de Sergipe de construir uma ponte que liga Brejo Grande a Piaçabuçu na chamada linha verde. A audiência teceu argumentos críticos a cerca dos prejuízos no biótico da foz caso a ponte seja realizada. O bispo da Diocese de Penedo e representantes das organizações populares além das comunidades locais falou da situação atual da região e denunciaram a grilagem de terra para fins turísticos e a situação das comunidades tradicionais pesqueiras que estão ameaçadas de serem expulsas de seu lugar. A exemplo da Comunidade Resina.

Agenda de Agosto:
30/jul - Audiência do Comitê para discutir situação da Foz
31 e 01/08 - Audiência em Aracajú - Discutir no MPF Caso Resina
02 e 03 - Cartografia Social de Tumbalalá e Truká - Preparação do Relatório de Denuncia a ONU
05 a 08 - Encontro do Conselho - Discutir a Bacia SF
09 e 10 - Cartografia Social de Pipipã e Kambiwá - Preparação do Relatório de Denuncia a ONU
11a 15 - Mutirão em Pão de Açúcar - Dicussão sobre Barragem de Trairas
15 e 16 - Cartografia Social do Povo Anacé - CE - Preparação do Relatório de Denuncia a ONU
22 a 24 - Encontro dos Educomunicadores Penedo - Formação e Estudo da Cartilha
23 e 24 - Cartografia Social dos Xukuru Kariri e Tuxá - Preparação do Relatório de Denuncia a ONU
28 - Camara Consultiva do Baixo (COMITÊ) - Discutir barragem de Trairas
30 e 31 - Cartografia Social Kariri Xocó e Xocó -Preparação do Relatório de Denuncia a ONU

Contatos:
Alzení Tomáz – CPP NE/Articulação Popular do Baixo São Francisco
Telefax: 75. 3281 0848/ 75. 9136 1022
alzeni_tomaz@yahoo.com.br
baixosaofrancisco@gmail.com
Blog do Baixo SF: http://baixosaofrancisco.blogspot.com/






PESCADORES E PESCADORAS DA BAHIA!


Hoje, estamos vivendo um dos momentos mais desafiadores da história dos pescadores do Brasil. Como se não bastasse o grande prejuízo que os ricos trouxeram para nossa pescaria com suas indústrias, barragens, fazendas de camarão, agrotóxicos... Agora, eles querem nos prejudicar muito mais: seus planos são PRIVATIZAR O MAR E OS RIOS! Querem implantar grandes fazendas de criação de peixe e cercar os lugares onde pescamos.

Com o projeto bijupirá os ricos desejam copiar o projeto salmão que trouxe grande prejuízo para as comunidades pesqueiras do Chile. Lá, os ricos ficaram ainda mais ricos e as comunidades pesqueiras estão impedidas de pescar.

Fato tão grave assim na história do Brasil, apenas pode ser comparado com a lei de terras em 1850. Ela determinou que o acesso às terras só por meio da compra. Como os Índios, Negros e Pobres não podiam comprar, as terras ficaram concentradas na mão de poucos. Nós sofremos as conseqüências desta lei até hoje. Esta situação gerou muita violência no campo e conflitos sociais como bem conhecemos.

Hoje, estão inventando uma lei chamada de cessão das águas públicas. Eles não querem ver que as águas públicas já estão cedidas para os pescadores e pescadoras desde o tempo de nossos ancestrais. A ganância dos ricos é tão grande que estão de olho no MAR e nos RIOS. Nós não somos bobos. Conhecemos seus planos... Enganar... Exportar... Acumular riquezas... Colocar cercas no MAR e nos RIOS... São esses os seus planos!

Está em nossas mãos a resistência! Vamos fortalecer nossas comunidades e nossa organização! Alguns vão se vender... Alguns serão enganados e ficarão do lado dos ricos... Mas vamos pra rua e gritar bem alto e com certeza Vamos vencer esta luta!


MINISTÉRIO: SIM!

PRIVATIZAÇÃO DO MAR E DOS RIOS: NÃO!


terça-feira, julho 29, 2008

segunda-feira, julho 07, 2008

Começou o tempo de luta, Kalankó em Retomada

Ontem, reportei-me ao pé da serra do vale da divisa entre Pernambuco e Alagoas, quase pertinho do Rio Moxotó, é lá que o Povo da Etnia Kalankó vive a centenas de anos, eles haviam me comunicado na ultima sexta-feira (13/06) que estariam em retomada e queria a nossa presença. Com uma gripe muito forte, terminei não indo no dia combinado e, somente ontem aproveitando da presença de Clarice (jornalista da Articulação do São Francisco), decidimos de ir até lá, fazer uma nota, divulgar.

Ao chegar à retomada alguns barracos, um típico acampamento de sem terra, ou melhor, acampamento de índio sem terra. Na entrada uma faixa de apoio dos Povos do Sertão de Alagoas. Algumas pessoas descasulavam algodão, antiga atividade agrícola que praticam na região. Outros descansavam nos barracos. Encontrei o Zezinho, Cacique dos Koiwpanká que se encontrava lá desde o começo apoiando a iniciativa. Logo pediu ao Paulo cacique dos Kalankó, que me apresentasse ao lajeiro de água, tratava-se de um caldeirão de água na pedra feito por seus antepassados. Em meio à caatinga, pés de xique-xique e mandacaru, catingueira e facheiro ornamentavam o lugar. Uma energia diferente... Senti o cheiro do praiá. Eis que estávamos num lugar sagrado.

Entrada da Retomada Kalankó


Por que vocês vieram fazer a retomada aqui Paulo? Perguntei meio que com a resposta na ponta da língua. Respondeu-me: “porque é aqui o lugar dos nossos antepassados, dos primeiros que aqui chegaram”. Pedi-lhe que me desenhasse o território no papel. Em rabiscos foi indicando os lugares e as coisas que ali existem.

“Nós aqui vivemos sem terra, só tem o chão pra fazer a casa, muitos trabalham pra os posseiros em dias de serviço. Somos espalhados nessa região, mas, tem cinco aldeias que forma o Povo: Aldeia do Lajeiro, Aldeia Januária, Aldeia Gregório, Aldeia Gangorra e Aldeia Batatal” os maiores donos de terra aqui é Luiz Carlos que tem o domínio da terra da Gangorra e Zé Francisco que tem o domínio da Serra dos Campos. Aqui onde a gente tá, quem tem o domínio é Augusto, antigo posseiro. Nós somos índios sem terra. Acontece que aqui em baixo na Gangorra os sem terra vieram e acamparam. Daí a agente foi conversar com as lideranças que ali era terra de índio, eles disseram que não saiam e que a gente tinha que se junta a eles como sem terra. Nós dissemos que temos os nossos custumes e a gente ia fazer retomada como índio sem terra e não como sem terra. Eles não entenderam, mas, a poucas semanas o posseiro da Gangorra tocou fogo nos barracos deles. Nosso povo ficou com medo, mas, decidiram que mesmo assim, a gente tinha que fazer a retomada. Depois de muitas reuniões, comissão vai, comissão vem, decidimos que mesmo sem estrutura nós vinha. E viemo”.

Cacique Paulo Kalankó

Oriundos do Povo Pankararu, migrou, fugidos da perseguição um pouco antes de 1840. hoje são 5 aldeias com 75 famílias e cerca de 338 índios. Em tempos difíceis e de desolação, “chegaram três famílias aqui neste chão. Mas, a fome era grande, eles comiam os calangos dos lajeiros, aqueles répteis dos lajeiros. Daí o povo começaram a chamá-los de calancó. Em noites de ritual, os encantados nos iluminaram, - é aqui que se encontra o Povo Kalamkó!” disse o Pajé Antonio Francisco de 53 anos. O povo comemora no dia 25 de julho aniversário de auto-identificação. “Antes a gente não podia dizer que era índio. Sempre que nosso povo chegou aqui, praticava os rituais, mas, até das crianças, eles tinham medo e fazia em segredo. Esse povo era povo caçador, mas, depois que as caça ia se acabando, foram viver de alguma roça. Mas, nunca perdemos nosso ritual. A gente nunca mostrava o ritual da cura, pra não vazar. Minha mãe de criação morreu com 94 anos e contava pra nós dos rituais”. Disse.

Mapa desenhado por Paulo Kalankó

“Aqui teve 4 caciques. Os três primeiros não foram de muito agrado do povo, porque não ajudava muito, aí o povo se juntou e escolheu Paulo que é o 4º. Cacique, as famílias desses outros, umas 12 não gostaram muito, ficaram insatisfeitos. Mas, foi preciso. Eu sempre fui o Pajé aqui nesses 10 anos. Pelejei pra não ser, fiz de tudo pra escolherem outro, mas, os caminhos apontaram e eu não pude fugir da responsabilidade. Aqui tem 10 anos porque foi aí que agente começou a assumir nossa condição de índio”.

Percebi que já tinha passado a hora de almoço e a conversa seguia com seu Antonio o Pajé. Paulo gritou, mãe bota um feijão com piaba pra esse povo. Estávamos eu, Clarice, Celina, ex-presidenta do STR de Água Branca que a muito tempo ajudou no reconhecimento deles e a sua irmã Elizangêla, estudante de agronomia na Venezuela, ambas de família de caboclos, cujo troco se estruturava em famílias com espiritualidade tradicional, mas, não assumidos. Sua mãe falava com os encantados e sofreu terrivelmente de doenças que a medicina não podia explicar. Morreu sedo e somente depois, os filhos passam a reconhecer que seu sofrimento tinha que ter sido trabalhado. Alguns filhos têm o dom, mas, ainda tem medo de assumir.

Pois bem, voltando aos Kalankó, parece esquisito imaginar que numa época dessa a fome ainda é espectral. Ficamos por ali, nas conversas com um e com outra, terminamos por não comer, pois a única panela de comida quase não tinha nada para o que ainda faltava se alimentar. Enrolamos ali nossas próprias tripas e decidimos por comer na cidade quando chegarmos. Simples, pois, estávamos tão acostumadas a passar um dia de fome por causa da dinâmica do trabalho.


Toré das Crianças Kalankó


Ficamos ali, o Pajé cantou umas cantigas de toré e as crianças satisfeitas dançavam pra gente ver. Terminado o rito. Anunciamos a nossa ida. Fal, vice prefeita de água branca que já estava lá apoiando a três dias decidiu de nos acompanhar, a Irmã Alda do CIMI, continuou lá ficaria até o próximo sábado (21/06). Ao viajar decidimos passar na casa de uma rezadeira, uma senhora de 72 anos, Clarice queria que ela a rezasse. Mas, ao chegar lá, ela falou que não estava em condições já tinha rezado muito num povo que tinha chegado por lá nesta manhã. Clarice deixou seu nome pra ela rezar, pois não dava mais pra retornar. Continuando nosso retorno à Água Branca, ao avistar de longe a retomada do Povo, vimos que escolheram um lugar estratégico, ainda estávamos no terreiro da rezadeira. No alto os barracos de lona, estavam no pé de um Serrote. Uma vista que impressionou. Seguimos o caminho e ao passar no Riacho da Gangorra, riacho que se encontra com o Riachão e deságua no Rio Moxotó do lado de Pernambuco, senti o cheiro forte do Campió. Até imaginei que alguém fumava o cachimbo no carro, ainda olhei pra trás, mas, nada. Uma forte tontura me consumiu, escutávamos na conversa no carro as historias da família de Celina, sobre o dom de sua mãe. Algo estranho no organismo, senti forte enjôo. Mas, me contive em não comentar. A estrada estava ruim e continue a dirigir o veículo. Imaginei que poderia ter sido a falta de alimento, não comentei nada, chegando à cidade iríamos comer e tudo ficaria bem.

Paramos num restaurante e pedimos um peixe pra comer. A comida chegou depois de algum tempo, ainda me consumia aquela dor de cabeça. Na mesa, Fal conversava conosco sobre o Povo. Nesses três dias, ela relatou que o povo sabe conviver com a fome. “Farofa de café é o alimento da manhã, feijão e farinha é comida do cotidiano, hoje tinha umas piabas, mas, isso não é comum. As crianças vão pra escola com fome, quando tem merenda é a refeição do dia”. Disse.

Tanque de Pedra Natural no território tradicional

Parece característica histórica, que merece estudo. Na década de 90, o STR através de Celina esteve em reuniões naquele lugar. “O povo se esquivava de falar, era muita miséria. A fome era visível, comer uma vez por dia era comum”. Relata Celina. Depois foi que o CIMI veio acompanhar e daí as coisas foram melhorando, até a limpeza melhorou, algumas casas já são de alvenaria, já tem posto médico e a FUNAI já reconhece.

Essa noite percebi que a comida não me fez bem, ainda zonza, algo estranho se move em traços de lembranças esquisitas, sonhei esta noite com o povo no vale, gemendo de fome. Minhas visões me deportaram para além da minha linhagem de antepassados, vi pessoas que nunca tinha ficado na memória. Aparece-me em sonho os caminhos de lá. “seu lugar é lá, vá e leve comida”. Acordei pela madrugada, um incomodo só. O cheiro dos praiá me consumindo. Devo retornar neste São João.

Segundo Paulo, o objetivo é manter a organização na retomada pra não terem que voltar atrás. “Aqui é lugar de nossos antepassados. Já documentamos pra FUNAI, pra FUNASA e o Ministério Público pra tomar as providencias. Falamos com o Ministério Público pra olhar pela nossa segurança, não teve ameaça, mas, muitas conversas. E temos que nos prevenir, depois do que fizeram com os sem terra, agente tem que se prevenir. Queremos deles a formação do GT pra fazer nossa demarcação”.

Para o Pajé Antonio Preto, o território chega a cerca de 4 mil hectares e o povo só tem o chão da casa pra morar, não tem terra, pois está sob domínio de grandes posseiros. A primeira fase do Relatório Antropológico já foi feito, mas, não concluído. É tempo de luta, o Kalankó antes recuperando sua condição étnica, hoje se encontra em Retomada para garantir a demarcação de seu território tradicional.

Oriundos do aldeamento do Brejo dos Padres/PE, no século XIX vieram da etnia Pankararu, PAnkarú, Giratacó, Cacalankó Umão Canabrava Tatuxi de Fulo (Arruti, 1999) os Kalankó optaram pelo termo etnônimo que lembram os antigos Cacalancó, mas tinha haver como Antonio Preto fala, “o calango em tempo ruim, até sustenta a gente, a gente demo o nome de Kalankó, por mode de calango”.

Em 1998 aparece afirmando a identidade étnica, onde cinco pontas de rama de um único “tronco velho”, migraram para o Alto Sertão Alagoano do São Francisco: Kalankó, Karuazu, Koiupanká, Katokim e Geripankó. “O caboclo ta no mato ta apanhando murici. Ele vem pra ajudar o povo de ouricuri”. Além do Toré, o povo pratica os Serviços de Chão e as linhas do Praiá.