quinta-feira, junho 19, 2008

Jornada Nacional de Luta mobilizou milhares de trabalhadoras/es do Campo e da Cidade em todo país

A Jornada Nacional de Luta dos/as Trabalhadores/as do Campo e da Cidade, realizada na semana de 10 a 13 de maio de 2008, é uma continuidade da luta da Via Campesina, que neste processo se soma a movimentos sociais e organizações urbanas.
Nessa Jornada, construída a partir da negação ao atual modelo político, econômico, social e cultural vigente, onde a vida se constitui em apenas mais uma fonte de lucro, diversas atividades foram desenvolvidas sob os pilares da construção de uma sociedade mais justa, solidária e igualitária, com soberania dos povos e equidade nas relações de gênero.

A Via Campesina e trabalhadores urbanos da Assembléia Popular realizaram protestos para denunciar os problemas causados pela atuação das grandes empresas no país, especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica neoliberal.

O modelo econômico baseado no capital financeiro e no oligopólio de empresas transnacionais, principalmente do setor do agronegócio e da energia, sacrifica a renda da população com o aumento do preço dos alimentos e da conta de luz. Para isso, se apropria da terra, das águas, dos minerais e da biodiversidade, privatizando o que é de todos. Aumenta a exploração dos trabalhadores, precariza e retira os direitos trabalhistas, aumenta o desemprego, a pobreza e a violência.

Dessa forma, promove a concentração da riqueza nas mãos dos mais ricos, especialmente dos banqueiros e das transnacionais, enquanto aumenta a desigualdade e a pobreza da população. Combater essa lógica opressora e destrutiva é necessário e urgente.

Por isso, nessa Jornada, a Via Campesina e os Movimentos Urbanos denunciam os interesses das empresas transnacionais em aliança com os latifundiários; o monocultivo em grandes extensões de terras, que destroem a biodiversidade, produzem poluição ambiental, geram desemprego e promovem a desagregação social das comunidades camponesas, indígenas e quilombolas; a produção de etanol para exportação, promovendo a ampliação do plantio do monocultivo da cana-de-açúcar; o uso das sementes transgênicas, que destroem a biodiversidade e eliminam as nossas sementes nativas; o desmatamento dos nossos biomas, de modo especial da floresta amazônica e do cerrado, e a destruição dos babaçuais, através da expansão da pecuária, soja, eucalipto e cana, juntamente como a exportação de madeiras e minérios.

A partir desta compreensão, mulheres, homens e crianças foram às ruas para denunciar, mas também dizer que querem e propõe um outro modelo de desenvolvimento para o povo, com um projeto de agricultura camponesa baseada na produção de alimentos saudáveis e na soberania popular.

Abaixo, descrevemos as atividades que aconteceram nos estados do Brasil durante esta semana de luta do povo brasileiro. Em alguns deles, com forte repressão policial. Como exemplo, o estado do Rio Grande do Sul e de São Paulo.

Produzir alimentos saudáveis, cuidar da vida e da natureza!
Rio Grande do SulForam realizadas atividades em diversos locais. Em Vacaria, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Aratiba, Porto Alegre, Rosário do Sul, Erval do Sul, Piratini e Santa Cruz. Duas destas atividades foram fortemente reprimidas pela Brigada Militar.
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CearáOs trabalhadores protestam contra a alta dos preços dos alimentos, transposição do Rio São Francisco e instalação de uma refinaria da Petrobrás, que será construída em cima da bacia hidrográfica e o consumo de água será equivalente a uma cidade de 30 mil habitantes.
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Minas GeraisAs atividades denunciaram os crimes ambientais e sociais que as empresas mineradoras vêm trazendo ao estado, dentre elas principalmente a Companhia Vale. .
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ParanáOs/as trabalhadores/as rurais cobram do governo federal a reestatização da empresa Ultrafértil/Fosfértil, privatizada há 15 anos, a quebra do controle das transnacionais sobre os alimentos e fertilizantes e uma política eficaz de financiamentos para os camponeses e a agricultura familiar................................................................................................... Leia mais
GoiásAgricultores/as da Via Campesina, trabalhadores/as de bairros organizados em sindicatos e na Assembléia Popular fizeram protestos em três pontos no estado................................................................................................... Leia mais
PernambucoCerca de 200 trabalhadores/as rurais da Via Campesina ocuparam a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (EECAC), no município de Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco, em protesto contra o avanço da monocultura de cana-de-açúcar na região, que contribui para a elevação da crise dos alimentos no país. Durante a ocupação, os agricultores destruíram mudas de variedades de cana, inclusive espécies transgênicas, e cortaram cerca de dois dos 100 hectares de cana-de-açúcar plantadas na Estação................................................................................................... Leia mais
BrasíliaUma comissão de representantes dos movimentos da Via Campesina participou de reunião com o chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho. A Via Campesina apresentou o documento "Programas Estruturantes de Curto Prazo", com propostas para a agricultura brasileira superar a crise do preço dos alimentos................................................................................................... Leia mais
Rio de JaneiroCerca de 500 trabalhadores/as rurais da Via Campesina e de diversas organizações populares da Assembléia Popular realizaram um ato na frente da sede nacional da Vale, no centro do Rio de Janeiro, para denunciar os impactos sociais negativos causados pela atuação da mineradora nos estados de Minas Gerais, Pará, Maranhão e Rio de Janeiro.
RondôniaA mobilização visou denunciar o desmatamento da Amazônia, a ocupação ilegal de enormes extensões de terra para plantação de soja e protesta contra a construção das usinas do Complexo Madeira. Em Ouro Preto, 200 pessoas fizeram uma mobilização por redução no preço da energia................................................................................................... Leia mais
TocantisAlém de denunciar o corte ilegal da floresta amazônica e do cerrado para grandes extensões de lavoura, os/as manifestantes reivindicaram o cumprimento dos acordos feitos entre eles/as e a empresa Vale, construtora de uma ferrovia na região................................................................................................... Leia mais
Espírito SantoA mobilização aconteceu no município de Montanha, onde será instalada uma nova usina, pertencente à empresa estrangeira Infinity Bio-Energy, companhia criada em 2006 e sediada na Ilha das Bermudas, e que já comprou todas as usinas de cana do norte do ES................................................................................................... Leia mais
São PauloTrabalhadores/as da Via Campesina ocuparam uma fazenda no município de Mirante do Paranapanema, da Organização Odebrecht, que está construindo a usina Conquista do Pontal para a produção de etanol. Também, na cidade de São Paulo, cerca de 600 trabalhadores/as rurais da Via Campesina e integrantes da Assembléia Popular ocuparam prédio da Votorantim e CPFL para denunciar os impactos ambientais da construção da barragem de Tijuco Alto, no Rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná. O protesto também denuncia os altos preços da energia elétrica................................................................................................... Leia mais
ParaíbaMais de 200 trabalhadores/as rurais da Via Campesina ocuparam o latifúndio Nossa Senhora de Lourdes, localizado a 5 km da cidade de Mari, que possui 1.100 hectares com a monocultura da cana. A propriedade de Carlos Ribeiro Coutinho foi arrendada para a Usina Jacungu................................................................................................... Leia mais
BahiaOs trabalhadores e trabalhadoras denunciam que os grandes projetos de irrigação beneficiam apenas os latifundiários do agronegócio, especialmente o projeto de transposição do Rio São Francisco, o Pontal Sul, em Petrolina, e o Projeto Salitre, na cidade vizinha de Juazeiro, na Bahia................................................................................................... Leia mais
AlagoasOs manifestantes protestaram contra a transposição do Rio São Francisco, construção das novas barragens e a baixa vazão do rio, que causa fortes impactos na Foz do Rio São Francisco. Também denunciaram que a transposição e as novas barragens beneficiam apenas os latifundiários do agronegócio................................................................................................... Leia mais
Santa CatarinaForam realizadas mobilizações em duas regiões do Estado. Cerca de 700 trabalhadores estiveram em frente à Klabin, empresa de papel e celulose, que detém 160 mil hectares de pinho e eucalipto no estado. Além disso, os/as manifestantes distribuíram 500 mudas de árvores nativas e 15 toneladas em cestas de alimentos para a população da cidade de Otacílio Costa. No município de Maravilha, 1.200 trabalhadores/as fizeram protestos contra a Aurora, que representa o modelo de produção do agronegócio................................................................................................... Leia mais
Mato GrossoOs/as agricultores/as fizeram debates com a população local, em escolas e nas rádios locais, denunciando os graves problemas sociais e ambientais que o Grupo Camargo Corrêa causa na região. O grupo, que detém 52% das terras da região, é responsável pela obras do Complexo Rio Madeira................................................................................................... Leia mais

segunda-feira, junho 16, 2008

OCUPAÇÃO NA HIDRELÉTRICA DE XINGÓ


Via Campesina e Articulação Popular do Baixo São Francisco dia 10 de junho de 2008

quarta-feira, junho 11, 2008

Trabalhadores ocupam duas hidrelétricas por mais de sete horas


Nas regiões do Submédio e Baixo São Francisco duas hidrelétricas, Sobradinho (BA) e Xingó (AL e SE) são ocupadas durante mais de sete horas, por centenas de trabalhadores ligados a organizações e movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais. As ações de hoje (10) fazem parte da jornada de luta da Via Campesina contra o modelo de desenvolvimento do governo federal, baseado em grandes projetos como a transposição de águas do rio São Francisco.

Em Xingó são cerca de 1500 pessoas dos estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia. Com o lema "Queremos produzir alimento contra o agronegócio e em defesa da agricultura camponesa". A mobilização teve início por volta das 09h e seguiu durante toda a tarde. Eles chegaram a resistir a ação de um grupamento da Policia Militar de Sergipe, com cerca de 60 homens, permaneceram na Casa de Força da Hidrelétrica e começam a sair, após longo processo de negociação.

O grupo denunciou os prejuízos causados pela obras do projeto de transposição, além da ofensiva do governo federal para construção de novas barragens e a baixa vazão do rio na foz, que tem causado a diminuição de espécies nativas e a crescente miséria.

Em Sobradinho a ação iniciou por volta das 06h com aproximadamente 700 pessoas. Os camponeses não encontraram resistência na entrada e ocuparam área de acesso a sala de controle da Usina. Policiais militares e federais tiveram no local a fim de negociar uma possível retirada dos manifestantes e fontes, não oficiais, ainda afirmaram que um grupamento da infantaria, do batalhão do exército em Petrolina (PE), estaria a caminho da área.

Todavia, a saída do local foi decidida em assembléia geral, por volta das 13h. “Entendemos que cumprimos nosso objetivo de denunciar esses projetos e essa é apenas uma das ações que estão acontecendo em todo o país”, disse Cícero Félix, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

As duas Usinas foram construídas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Sobradinho tem 30 anos e é chamado de “coração artificial do São Francisco”, com um dos maiores lagos artificiais do mundo. É a primeira vez que uma ação do tipo acontece no local. Xingó é mais nova, tem cerca de 12 anos

Nas duas ocupações os manifestantes defendem a convivência com o semi-árido , revitalização do rio – considerando as comunidades que historicamente tem sobrevivido em toda a bacia e as suas necessidades reais, regularização fundiária e a paralisação das grandes obras, como a construção de novas barragens e o projeto de transposição.

Na Bacia do São Francisco as ações são articuladas pelos movimentos que fazem parte da Via Campesina junto com outros movimentos, organizações sociais, povos e comunidades tradicionais que formam a Articulação Popular São Francisco Vivo.

Mais informações:
Sobradinho
Cícero Félix (CPT): (74) 91984001
Jailson Santos Sena: (74)

Xingó
Alzení Tomáz (CPP NE): (75) 9136 1022
José Hélio (MPA NE): (82) 9950 0227
Beto (MST AL): (82) 9999 4846
Luciano (MST AL): (82) 9915 3134

segunda-feira, maio 26, 2008

Conquista do Povo Camponês

RELATORIO DA REUNIÃO NA COMUNIDADE BOM JARDIM POÇO REDONDO

Data: 08/05/2008


Participantes:

  1. Mães e Pais de alunos de 1° a 4° serie

  2. Gilvaneide, Rosalvo, Inês e Izabel – Coordenação Estadual do MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores.

  3. Roberto Araújo – MST

  4. Prefeita Iziane

  5. Secretario de Educação Zé de Lídia


A reunião aconteceu na Escola municipal da Comunidade Bom Jardim, e teve inicio às 3 horas da tarde onde as Mães e Pais colocaram suas reivindicações para Prefeita Iziane. Dois pontos foram destacados: Abertura da Escola e Infra-estrutura da Escola.

Relato das famílias:

  • A escola foi fechada no 2° semestre de 2007, alegou-se na época que a infra-estrutura do Colégio Dom Jose Brandão de Castro tinha melhor estrutura, para onde as crianças foram deslocadas;

  • Algumas Mães e Pais ainda tentaram se organizar para reabrir a escola, porém não tiveram apoio de todos;

  • A coordenadora do Grupo de Base do MPA do Bom Jardim (Baixinha) convidou a Direção do Movimento para uma reunião com as famílias que aconteceu no mês de setembro 2007;

  • Que no Bom Jardim tem 23 estudantes de 1° a 4° serie.

Relatos desta reunião:

- algumas Mães não queria lutar pela reabertura da Escola, compreendia que para as crianças seria melhor estudar no Colégio Agrícola, pois tinha merenda (iogurte).

- algumas Mães e Pais disseram que as condições do transporte escolar eram péssimas e temia pela segurança dos filhos e filhas.

- tirou-se duas pessoas da comunidade para conversar com a secretaria de educação e a prefeita, que não avançou.

- também existia a problemática das crianças menores de 5 anos que ficaram sem poder ir pra escola.

Nestas reuniões com o MPA sempre foi colocado à necessidade da reabertura da escola, pois esta é um patrimônio da comunidade, onde se realiza: festas, missas, encontros, reuniões e principalmente pelo fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente e as Leis de Diretrizes Básicas garantem educar crianças menores de 16 anos no seio de sua família. E para que estas Leis fossem garantidas somente com Organização e União da Comunidade.

  • Uma segunda reunião aconteceu no mês de abril, com a presença de Rosalvo Coordenador Estadual do MPA em Poço Redondo, onde se encaminhou:

  • - reunião com a prefeita Iziane;

Na reunião com a prefeita Iziane discutiu-se e encaminharam-se as seguintes questões que foi assumido pela prefeita Iziane:

  1. Abertura da escola no mês de Maio, proposta de até o dia 15/05;

  2. Solicitação de:

- 15 cadeiras

- 1 bebedor

- 1 fogão

- panelas, pratos, copos, colheres.

- 1 tampa pra caixa d’água ou uma caixa nova

- uma sala de pré-escolar, (Roberto Araújo, candidato a prefeito de Poço Redondo prometeu e garantiu as famílias, caso eleito abrirá o pré-escolar na comunidade)

- que a professora não fosse Leleda, mas outro Profissional;

- que caso a professora Leleda (que tem a portaria do município) não aceitasse voltar pra o Bom Jardim, outra pessoa fosse deslocada pra essa comunidade. Detalhe: Existe um problema entre a Prof. Leleda e alguns Pais e Mães.

- o MPA vai acompanhar o processo de reabertura da escola, que seja sem conflito e transtornos pra ambas as partes (Estudantes, Mães e Pais e Professores).

  • Representantes da Comunidade para acompanhar os encaminhamentos tirados e negociar com o poder publico municipal:

- Maria José (Baixinha)

- Maria Aparecida

- Adriano

- Aparecida

- Gilvaneide e Izabel - MPA

É importante afirmar, a Luta pela Reabertura da Escola é da Comunidade de Bom Jardim, fatores políticos partidários não influenciaram e nem influência na decisão e vontade do povo da comunidade. Esta é uma luta pela Educação Camponesa, que se respeite à cultura e a realidade do povo. A educação de cima para baixo não nos serve, queremos ser parte, e parte ativa nas tomadas de decisões, construir junto, queremos ser protagonistas de nossa própria historia.

EDUCAÇÃO CAMPONESA É CAMPONÊS EDUCANDO CAMPONÊS

domingo, maio 04, 2008

O que é um resort e o que trás de bom para o povo de Brejo Grande?

Entenda, pra não se deixar enganar!!

O que é um Resort ou hotel de lazer? é um lugar de luxo usado para relaxamento ou recreação, situado fora do centro urbano com áreas edificadas, voltados especialmente para atividades de lazer e entretenimento do hospede.
Para quem serve um resort? Somente aos ricos que podem pagar diarias caras que chegam até mil reais por dia para passar feriados ou férias. Geralmente, um resort é uma grande seleção com diversas atividades, como bebida, comida, alojamento, esportes, entretenimento e compras.

A quem beneficia? Somente os donos do hotel lucram com o empreendimento. A construtora NORCON (obra normalmente financiada com dinheiro público), deseja possuir todas essas terras de beira rio perto da Foz do Rio São Francisco para lucrar muito dinheiro. Para isso, eles querem retirar as comunidades deste local, pois os resorts precisam fazer a “limpeza visual” no caminho de acesso dos hospedes de luxo. Eles tiram não somente os pobres de suas casas, mas, o que eles consideram feio. Daí comunidades como Resina, Saramém e Brejao dos Negros são ameaçados de serem retirados deste local.

Como ficam os pobres? Os pobres ficam fora de seus território tradicional. Pois o resort não traz emprego para o povo do local, pois eles usam somente a mão de obra altamente especializada em hotelaria, não se enganem, pois, não serão estes pobre que terão esse emprego, inclusive proibidos de venderem artesanatos diretamente aos hóspedes ou mesmo comidas. O meio ambiente também sofre, com a destruição do ecossistema Manguezal, destruição das lagoas, caranguejos, siris, peixes e pássaros. Os impactos causados ao meio ambiente, como poluição, extração inadequada de areia são alguns dos problemas causados por estes empreendimentos.

Acontece que para construir o resort é necessário licença do IBAMA para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento. Precisa que o INCRA resolva o problema das terras das populações tradicionais que aqui exista. Que tem que haver preocupação com a participação efetiva das comunidades atingida opinando sobre esse assunto. Acontece que a NORCON aliados aos latifundiários que se apropriaram dessas terras, aos políticos desta região em busca de enriquecimento, não estão respeitando o direito dessas comunidades tradicionais que dependem do rio, do mar e do mangue para viver.

A terra é do povo de Resina, a terra é do Povo do Saramém, a terra é do Povo pobre Quilombola do Brejão dos Negros, a Terra é do povo de Carapitanga e de todas as comunidades que aqui existe. A terra não é de ninguém, a Terra é de Deus, a Terra é dos Pobres. A Terra é das Populações tradicionais que sempre viveram aqui desde mesmo antes e depois da colonização: são os pescadores e pescadoras artesanais, os descendentes dos negros africanos – o Povo Quilombola. Essas comunidades tradicionais são os herdeiros, deixado por seus antepassados e não podem abrir mão deste direito.

Essas terras têm que ser transformadas não em resort para os ricos se beneficiarem. Tem que ser transformadas em Reservas Agroextrativistas - RESEXs e feita a regularização das terras públicas destinadas às populações tradicionais que aqui existem. Onde o Povo viva e cuide da Natureza, sem cercas e sem medo.

São Francisco Vivo: Terra, Água, Rio e Povo!!
Articulação Popular em defesa do Rio São Francisco

1º de Maio, caminhada silenciosa marca protesto na Foz

Trovão e Silêncio, marca caminhada de comunidades tradicionais no Município de Brejo Grande
O 1º de Maio, dia do Trabalhador na Foz do São Francisco, Município de Brejo Grande-SE, reuniu cerca de 200 trabalhadores, acampados, quilombolas e pescadores artesanais que vivem as margens do Rio São Francisco em terras que são públicas. As comunidades reuniram-se neste dia numa caminhada que percorreu as principais ruas da cidade de Brejo Grande.


O silencio marcou o trecho. As pessoas perceberam que não tinha um carro de som, que não tinha alardes. As pessoas caminhavam de cabeça erguida num silencio inquieto, ensurdecedor, confrontando-se com o interlocutor imaginário e lutando com sua própria indignação. Era como um murmúrio de uma brisa suave, que soava com pés firmes na paisagem de miséria e desalento que as ruas periféricas de Brejo Grande apresentam: insalubridade e miséria.

Concentrados na praça principal da cidade, como um trovão, as vozes antes silenciosas, ecoavam, desmascarando o medo que o povo desta região é submetido. Ameaçados de serem expulsos de seus territórios tradicionais, comunidade como a Resina e Saramém, povos herdeiros desse território, agora são ameaçados de perderem seu território para dar lugar à empresa NORCON construtora, que deseja edificar um hotel de luxo nesta região.

Com a conivência do Estado e conluiado com latifundiários da região e políticos, a NORCON não perde tempo e tenta persuadir a população local para se retirarem do local, oferecendo-lhes propina. Uma ação no Ministério Publico Federal e procedimentos no INCRA requer do Estado o direito de propriedade das famílias tradicionais que vivem neste local.

Outras denunciais foram feitas pelos trabalhadores, que trata de agressões as pessoas e o meio ambiente, como: desmatamento do mangue, perseguição contra trabalhadores, improbidade administrativa da prefeitura local, falta de saneamento básico, cercas que impedem a população de circular livremente em seus territórios, ameaças. Essas foram algumas demandas denunciadas no dia do Trabalhador.

terça-feira, abril 29, 2008

Conferência contra a transposição reúne Dom Cappio e povos do São Francisco

Cerca de 300 pessoas participaram da Conferência com Dom Luiz Cappio neste dia 26 de abril em Paulo Afonso-BA com o objetivo de debater sobre os impactos da transposição no Rio São Francisco e as alternativas de convivência com o semi-árido. Na oportunidade, foi lançado o livro do professor Juracy Marques e um vídeo intitulado Frei Luiz: um dom da Natureza. Memórias afetivas do seu jejum em Sobradinho. “Os escritos de Juaracy são marcantes e sensíveis porque ele descreve aqueles momentos vividos em Sobradinho, mas, descreve principalmente os sentimentos de sua alma naquela ocasião”. Disse Dom Luiz. O Bispo realizou um Jejum durante 25 dias na cidade de Sobradinho com o propósito de barrar as obras da transposição.

A Conferência reuniu diversas entidades populares, pastorais, igrejas, movimentos sociais, ongs, estudantes, educadores, universidades e comunidades tradicionais das regiões do Sertão da Bahia, Alagoas e Pernambuco. Um momento importante na plenária foi a fila do povo, onde muitos dos participantes tiveram livre a oportunidade de denunciar os problemas que afetam o São Francisco nesta região de beira rio-caatinga.

As principais dificuldades apresentadas apontaram para um rio condenado. Os participantes denunciaram que o modelo de desenvolvimento implantado vem trazendo impactos que compromete a vida do rio. A exemplo das grandes barragens que até hoje trás conseqüências irreparáveis: a perda dos territórios, perda da identidade, falta de cheias que não permite mais a manutenção da biodiversidade e principalmente a manutenção do pesca artesanal nesta região. A irrigação intensiva degrada o meio ambiente, polui e envenenam as águas e os alimentos. A piscicultura, longe de ser uma alternativa de emprego e renda como é pregada, ela intensiva, vem poluindo as águas, obrigando muitos a perderem as terras de beira rio, além de trazer ameaças contra os pescadores artesanais. A falta de uma reforma agrária efetiva e a falta de demarcação dos territórios indígenas, quilombolas e pesqueiras foram alguns dos problemas mais discutidos pelos participantes.

A questão da transposição levou mais tempo de discussão na conferencia. Dom Luiz, fez um histórico de sua trajetória são franciscana e apresentou as principais razões que o coloca contra o projeto de transposição, o que significa esta obra para o rio e o povo do semi-árido e as conseqüências desta para o rio já em estado de calamidade.

Sua fala apontou para uma obra imposta e militarizada, que envolve falsas promessas de que “vão levar água pra quem tem sede e que trará prosperidade, emprego e renda”. A verdade, disse dom Cappio, “é que a transposição aprofunda a indústria da seca, é uma obra injusta e enganosa. O governo já admite que a transposição tem a finalidade principal de levar água para os grande projetos de irrigação e industria, que produzirão para o agronegócio de exportação. A água não beneficiará quem realmente necessita dela, como as populações difusas – espalhadas nas caatingas, essas nunca sentirão o gosto dessa água. Mas, são as populações que pagaram o preço dessa água que chegará muito cara”. As obras da transposição custarão cerca de 6,6 bilhões de reais até 2010.

O que se propõe no lugar da transposição é a democratização do acesso a água que deve ser uma política pública prioritária, em todo o Semi-árido. Propõe-se uma revitalização verdadeira com um amplo e coordenado programa exaustivamente discutido com a sociedade e a ciência e submetido a rigoroso controle social. É a Convivência com o Semi-árido como fundamento de desenvolvimento e com acesso a terra e a água, além das inúmeras tecnologias apropriada para o semi-árido, que trará mais eficiência, menos custos e mais justiça para o povo do Rio São Francisco e o povo do semi-árido brasileiro.

A Conferência apontou para a continuação das lutas contra a transposição e a ampliação desta discussão na sociedade.


Pelo Fórum de Articulação Popular em Defesa do Rio São Francisco.
Alzení Tomáz – Conselho Pastoral dos Pescadores e Articuladora do Fórum.

sábado, abril 05, 2008

CONFERÊNCIA COM DOM LUIZ CAPPIO E OS POVOS DO SÃO FRANCISCO


C O N V I T E

Lutadores e Lutadoras do Rio São Francisco e do Semi-árido,

Na continuidade das lutas em defesa do Rio São Francisco e do Semi-árido brasileiro contra a transposição, convidamos todas as comunidades, movimentos sociais, organizações populares, pastorais e igrejas, povos tradicionais, ongs, universidades e todos e todas que defendem a vida, à participar da Conferência com Dom Luiz Cappio e os Povos do São Francisco para discutir sobre os Impactos da Transposição nas nossas Vidas. Será no dia 26 de Abril de 2008, das 8:00 às 17:00, em Paulo Afonso – BA.

PROGRAMAÇÃO:

8:00 – Abertura – Acolhida, apresentação dos objetivos e da pauta
- Apresentação Grupo teatral – APDT

9:00 – Memória das Lutas do São Francisco e apresentação do projeto de transposição
- Apresentação do Vídeo: “Gesto de Sobradinho”

10:00 – Fila do Povo: falas e depoimentos, denuncias e proposições dos Povos Indígenas, quilombolas, Pescadores Artesanais, Fundo de Pasto, Atingidos por Barragens, etc: Impactos da Transposição em nossas vidas.

11:30 – Expressões artísticas da terra e da água

12:00 – Partilha do Almoço.

13:30 – Frei Luiz: Um Dom da Natureza – Memórias Afetivas do Seu Jejum em Sobradinho (Lançamento do Livro – Juracy Marques)

14:00 – Conferência com Dom Luiz Cappio: Impactos da Transposição em nossas vidas.
- Debate e esclarecimentos

16:00 – Ato Público de Encerramento – Encaminhamentos dos Compromissos da Conferência de Paulo Afonso e mística final.


Obs.:
. Cada caravana traga comidas típicas para partilhar no almoço dos povos
. Trazer símbolos que caracterize sua região e suas lutas para os momentos de mística e ornamentação.

São Francisco Vivo: Terra, Água, Rio e Povo!!

Contatos:
P/ Fórum de Articulação Popular em Defesa do Rio São Francisco
Alzení Tomáz – 75 9136 1022
Celina Santana – 82 9999 0320
Pedro João – 87 9617 6694
Juracy Marques – 75. 8111 9914/3282-0622

quinta-feira, abril 03, 2008

Dia da mentira do governo e da verdade do povo em outras partes do País

Nesse dia primeiro de abril o governo Lula ganha o título de mentiroso nacional
Pontes fechadas, acampamento e ocupação, paralisações de trabalhadores, panfletagem em diversas cidades, dentro e fora da Bacia do rio São Francisco. Essas são algumas das mobilizações que aconteceram durante a manhã de hoje (01) e que continuam durante a tarde, como parte das mobilizações do dia primeiro de abril, também chamado de “Dia da Mentira do Governo e da Verdade do Povo”.

As manifestações possuem como eixo central as mentiras divulgadas pelo governo Lula sobre o projeto de transposição de águas do rio São Francisco. Todavia estão sendo utilizadas nas mobilizações as mentiras que atingem diretamente as categorias de trabalhadores, tais como as reformas da previdência e universitárias. São coordenadas por organizações populares, povos e comunidades tradicionais.


São Paulo
A mobilização em São Paulo (SP) teve inicio ainda pela manhã quando o bispo Luis Flávio Cappio visitou uma ocupação com cerca de 600 famílias, ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Ainda no início do dia os metalúrgicos de São José dos Campos fizeram uma hora de paralisação.

Logo mais, a tarde, haverá coletiva de imprensa, às 17h, e ato público, às 19h. Entre os participantes a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL), Fábio Comparato e manifestantes ligados aos movimentos sociais.

Ceará
Hoje pela manhã mais de dois mil trabalhadores do setor da construção civil pararam as atividades por cerca de uma hora, em Fortaleza, e ainda houve paralisação em um terminal de ônibus. Segundo informações das coordenações dos atos, o tema central é o projeto de transposição de águas do Rio São Francisco e junto com ele são colocados outros projetos que estão na mesma linha.



Bahia
No início da manhã, mais de 500 manifestantes ligados às organizações populares, comunidades tradicionais e paróquias dos municípios de Casa Nova, Remanso, Juazeiro, Sobradinho, Bonfim, Pilão arcado e Campo Alegre de Lurdes, na Bahia, além de Petrolina (PE), montaram acampamento em frente à prefeitura de Casa Nova e ocuparam a sede da prefeitura.

O local foi escolhido por conta dos graves conflitos agrários envolvendo posseiros de uma área com cerca de 30 mil hectares e empresários que tentam grilar as terras ocupadas há mais de 100 anos. Os trabalhadores Fundos de Pasto dizem que a mobilização é “pra ver se nós conseguimos voltar para nossa área com segurança e dignidade”, diz Geová Almeida da Silva, 36.

Desde o início do mês de março, mais de 300 famílias enfrentam a ação violenta de seguranças armados e funcionários dos empresários que chegaram a destruir casas, roçados, pastagens de pequenos animais e trabalho com a apicultura. A ocupação não tem prazo para terminar. As atividades, no estado, tiveram início ontem com uma caminhada e panfletagem pelas ruas do município de Guanambi. Durante a tarde estão previstas panfletagens e reuniões em Serra do Ramalho e na região de Barra.

Em Salvador, a concentração acontece, nesse momento, na Praça da Piedade, onde haverá os lançamentos do relatório de Direitos Humanos e do filme “Além do jejum”, no final da tarde acontece um grande ato público.




Minas Gerais
A ponte que liga os município de Pirapora e Buritizeiro, em Minas Gerais, também foi fechada por manifestantes. A interdição durou cerca de três horas, com pelo menos 400 pessoas de Belo Horizonte, Montes Claros, Três Marias, Buritizeiro, Pirapora e Jequitaí. Em seguida houve uma passeata pelas ruas da cidade e durante a tarde acontece uma reunião na praça para troca de experiências, inclusive com uma brigada que luta por moradia na capital mineira.

Em Belo Horizonte as atividades acontecem durante a tarde na Praça Sete, onde está prevista a realização de um ato público.



Pernambuco
Em Recife o ato envolve professores universitários, trabalhadores dos correios – que entraram em greve hoje, anistiados políticos e os movimentos sociais. Eles se reúnem a partir das 15h na Praça Maciel Pinheiro.

Maranhão
Na capital maranhense a mobilização acontece no período da tarde, na Praça Deodoro.




Sergipe/Alagoas
Durante pouco mais de duas horas, centenas de manifestantes interditaram a ponte que liga os municípios de Propriá (SE) e Pôrto Real do Colégio (AL), no baixo São Francisco. Ligados à organizações populares e comunidades tradicionais dos estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia, foram recebidos pela Polícia Federal, que tentou conter a ação, mesmo assim chegou a se formar um engarrafamento com mais de 10 quilômetros.

Contatos
Salvador (BA) – Zoraide Vilasboas (Comunicação): (71) 99984503
Salvador (BA) – Raquel Salam (Comunicação): (71) 91416293
São Paulo (SP) – André Luis Valuche: (11) 31077984/ 84192696
Recife (PE) – Rafael: (81) 87418238
Belo Horizonte (MG) – Frei Gilvander: (31) 91627970
São Luis (MA) – Uélbson (98) 88415243
Alto São Francisco (Pirapora) – Alexandre Gonçalves: (38) 91933693
Médio São Francisco (Guanambi e outras) – Samuel Britto (77) 91363080
Submédio São Francisco (Casa Nova) – Cícero Félix: (74) 91984001
Submédio São Francisco (Casa Nova) – Marina Braga: (74) 91358689
Submédio São Francisco (Casa Nova) – Maria Oberhofer: (74) 91156977
Baixo São Francisco (Própria) – Alzení Thomaz: (75) 91361022

Comunicação – Clarice Maia: (71) 92369841

Empresa NORCON Continua Ameaças contra Comunidade Pesqueira

Na região da Foz do São Francisco um dos maiores problemas vivenciados pelas populações tradicionais são as ameaças dos latifundiários que dominam as terras públicas. Terras de beira rio e pequenas ilhotas são desfrutadas pelos latifundiários como se fossem donos, impedindo as comunidades de viverem em seu ambiente tradicional de usufruir e de morar.

Agora é a vez da NORCON, empresa de construção civil que pretende construir um grande resort nesta região (grande hotel). Aliados aos latifundiários, a empresa ameaça as comunidades de expulsão e obriga pescadores a venderem coqueiros. A investida é uma forma de manter os moradores calados quanto a resistência no local. “Caso eles não vendam os coqueiros e se retirem deste lugar nós vamos vender esse local pra outra empresa que poderá ser pior do que nós”. Ameaçou um dos acionistas da empresa avisando aos moradores.

Os moradores da Resina descreveram: ”quando eles chegam é de helicóptero e com ar de superioridade como se fossem donos de nosso lugar, disseram que “lá vai ser meu campo de golfe”, disse um dos donos esnobando poder, se referindo ao lugar onde estão nossas casas”.

A Comunidade Resina possui cerca de 42 famílias pescadoras e pescadoras artesanais que tira do rio o seu sustento. A comunidade vive da pesca e de pequenas roças. No INCRA e na justiça tramita ação para garantir o uso e a regulação das terras públicas em favor da Comunidade.

Noticias do Baixo

1º de Abril dia da mentira do governo e da verdade do povo

Trabalhadores e trabalhadoras, entidades, organizações populares ocuparam a ponte do Rio São Francisco que dá acesso a Propriá - SE e Porto Real do Colégio - AL interditando-a por mais de duas horas, provocando um congestionamento de cerca mais de 5 km de cada lado.

Os protestos fizeram parte da luta da sociedade contra as mentiras do governo quanto ao projeto de transposição. No inicio da concentração a Policia Federal chegou com mandato de interdito proibitório, assinada pelo poder judiciário federal de Sergipe, impedindo que a manifestação ocorresse na ponte ou em qualquer trecho da estrada de Propriá, sob pena de pagar multa de mil reais, cada manifestante. Ninguém assinou o mandato e a polícia saiu sem maiores incidentes.

A principal mentira do governo é dizer que “a água é para matar a sede dos sertanejos”. A verdade é que a água é para o uso político e econômico do agronegócio e das forças políticas conservadoras da indústria da seca que sempre reinaram no semi-árido brasileiro.


Os protestos denunciaram os principais descasos e tornaram publica a situação de degradação da região do baixo São Francisco. O rio se encontra hoje com 1.100m3/s, vazão que inviabiliza a reprodução da vida aquática no Rio, os pequenos irrigantes estão em situação de colapso e as cidades a exemplo de Arapiraca está com todo seu abastecimento de água comprometido, muitos bairros estão sendo abastecidos com carro pipa. Mesmo com as fortes chuvas, o rio desce com água sujas, arrastando encostas e muita areia. Mas, ainda na altura da ponte de Propriá é possível enxergar as crostas de áreas no meio do Rio largo e assoreado. Na comunidade Resina no município de Brejo Grande as famílias estão bebendo água com forte salina por causa do avanço do mar.

O povo do São Francisco sofre as mazelas oriundas da violenta degradação do Rio e clama por justiça para que outras intervenções não ocorram em sua bacia. As obras da transposição condenarão por vez a vida do São Francisco. Transposição, quem tem sede não se engana e não se ilude com as mentiras do governo. A verdade do Povo contra a mentira dos poderosos deverá vencer.


Criação de tilapia e a Segurança Alimentar

No Lago de Itaparica durante a semana santa, agentes da Pastoral dos Pescadores visitaram estações de criatórios de tilapia em tanque rede. Foi surpreendente ver a quantidade de peixe boiando nos tanques, mortos, atrofiados pela superpopulação e com doenças causadas por agentes infecciosos: bactérias, fungos e vírus. Sob estresse a tilapia morre agonizada nos tanques sem oxigênio, contaminando outros peixes.

Para piorar é muito comum os criadores utilizarem antibiótico na ração dos bichos para aumentar o tamanho. No entanto, o uso de antibióticos em animais de criação em confinamento é polemico em varias partes do mundo, no Brasil, não existe uma legislação que regulamente o uso de antibióticos que podem provocar resistências bacterianas originadas pelo uso de antibióticos que deixam bactérias resistentes nos animais. Essas bactérias chamadas de estéricas são transmissíveis dos animais para as pessoas.

Sem nenhuma fiscalização é comum produtores utilizarem o uso de antibióticos de forma oculta. “Agente não pode dizer que usa antibiótico, tem que colocar na ração escondido porque não podem, eles dizem que é pra curar as doenças dos peixes, eles ficam com muita ferida no corpo, mas, se fosse uma coisa boa, precisava ser escondido?” disse um trabalhador dos tanques rede que não quis ser identificado com medo de represarias.

A criação de tilapia em tanque rede vem trazendo profundos impactos ambientais e culturais nesta região do Lago de Itaparica. Porém, é preciso discutir a criação de tilapia intensiva na bacia do São Francisco, não só nos riscos culturais e ambientais, mas, sobretudo como uma questão de saúde pública.

quinta-feira, março 27, 2008

Território tradicionalmente Pesqueiro Ameaçado na Foz do São Francisco




Fórum de Articulação Popular em Defesa do São Francisco


A:
Presidência da República
GRPU – Gerencia Regional do Patrimônio da União - SE
INCRA Regional Sergipe
IBAMA
MINISTERIO PUBLICO FEDERAL
MINISTERIO PÚBLICO DO SÃO FRANCISCO
OAB SERGIPE
OUVIDORIA AGRÁRIA NACIONAL - OAN
As entidades abaixo assinadas vêem a público demonstrar a indignação para com os novos fatos ofensivos aos direitos dos pescadores e posseiros da Comunidade “Resina”, localizada no Município de Brejo Grande, bem como a todo o seu potencial destrutivo dos direitos de todos os povos tradicionais daquele município as margens da Foz do Rio São Francisco.

Cercados por fazendeiros latifundiários em todos os lados, as famílias pesqueiras da Comunidade “Resina” vivem um cotidiano de violência e ameaças há mais de 40 anos. Proibidos pelos fazendeiros de exercer a propriedade da terra como comunidade tradicionalmente pesqueira, agora, os moradores da “Resina” se vêem em confronto com uma das maiores construtoras do Nordeste, a Norcon.

Os pescadores do povoado “Resina” sempre estiveram em estado de insegurança com os fazendeiros circunvizinhos, que nunca respeitaram ou aceitaram a permanência daquela comunidade tradicional às margens do Rio São Francisco. Com a apreensão de animais, destruição de casas, violência física e diversas ameaças, os coronéis do latifúndio provocaram um cotidiano de sofrimento para todos os pescadores e pescadoras, posseiros e posseiras daquele perímetro de terras de beira rio.

Após décadas de opressão, os povos tradicionais daquele município, sejam os pescadores da Resina, os quilombolas do “Brejão dos Negros” e os posseiros da Carapitanga, vivem a renovação dos conflitos com a compra das terras, por parte da Construtora Norcon. É uma imensa faixa de terra localizada na beira do Rio São Francisco e a iniciativa daquela empresa em exigir a retirada de todos os povos de suas terras com o objetivo de construir um grande hotel na região.

Para a realização de seu grande empreendimento, a empresa compra a briga dos latifundiários contra as comunidades tradicionais e pretende se utilizar de todos os mecanismos para a retirada da moradia dos pescadores e posseiros ribeirinhos, o que deixará todos aqueles trabalhadores distantes de sua principal fonte de subsistência, o Rio São Francisco.

As ações implementadas pela Norcon vão de encontro a construção de cidadania e o reconhecimento do direito das populações tradicionais do Estado de Sergipe de permanecerem em seu território tradicional. Uma empresa que “se pretende” moderna, veste as roupas do coronelismo latifundiário e se rende a truculência antiquada que combatemos ao longo dos anos.

Neste sentido, vimos por intermédio deste, demonstrar toda a nossa indignação para com a Norcon e reivindicar o respeito às populações tradicionais, aos pescadores, as comunidades quilombolas, aos posseiros do município de Brejo Grande e a Foz do Rio São Francisco. Exigindo o direito de territorialização destas comunidades.

Penedo, 15 de março de 2008


Entidades:

ACONAQ/SE, ACRANE - Associação Cultural Raízes – Poço Redondo-SE, AGENDHA, AGIR, Caminhantes do Rio, Cáritas Diocesana de Propriá/SE, Casa da Mulher do Nordeste, Centro Dom José Brandão de Castro, CEBs da Diocese de Paulo Afonso, Central das Organizações de Penedo, Centro Sabiá, CIMI NE, Colônia de Brejo Grande, Colônia de Igreja Nova, Colônia de Pão de Açúcar, Colônia de Petrolândia, Colônia Z de Traipu, Colônia Z12 de Penedo, Colônia Z13 de Jatobá,Colônia Z15 de Canindé do São Francisco – SE, Colônia Z19 de Piaçabuçu, Colônia Z27 do Peba, Colônia Z7 Neopólis, Comissão de Juventude Rural de Pão de Açúcar, Congregação Irmães de Caridade de Pacatuba – SE, Conselho Pastoral dos Pescadores Nordeste, Conlutas SE/AL, DIACONIA Pajeú, Federação dos Pescadores Alagoas, Federação dos Pescadores de Sergipe, FUNESA - Universidade de Palmeira dos Índios, GEAVS, Grupo de Jovem Maninha Xucuru Kariri, Grupo de Mulheres Pescadoras de Penedo, Grupo Olha o Chico-Piaçabuçu, Grupo Paralelo KatoKinn – Pariconha/AL, Instituto Palmas, Movimento de Mulheres Camponesas, Movimento Ecológico Filhos do Velho Chico – MEFVC, Movimento Pró Desenvolvimento Comunitário de Palmeira dos Índios, MPA de Alagoas, MPA de Sergipe, MPDC – Palmeira dos Índios, Museu do Velho Chico em Traipu , Mandato do Deputado Iran Barbosa – PT/SE, NECTAS/UNEB, Opará Pão de Açúcar, ONG Mandacaru, Paróquia de Glória – BA, Paróquia de Petrolândia – PE, Paróquia de São Francisco em Paulo Afonso – BA, Paróquia de Traipu, Pastoral da Criança Propriá, Pastoral dos Reassentados, Pastoral Social Diocese de PA, Povo Kambiwá – Floresta/PE, Povo Gerinpankó – Pariconha/AL, Povo Koiupanká - Inhapi/AL, Povo Kariri Xocó- Porto Real do Colégio/AL, Povo Xocó – SE, Povo Karuazu – Campinho e Tanque – Pariconha/AL, Povo Katokinn – Pariconhas/AL, Povo Pankararé – Glória, Povo Pankararu – Petrolândia/Jatobá/Tacaratu, Povo Tupã – Paulo Afonso/BA, Povo Pipipã – Floresta/PE, Povo Tigui-Botó – Feira Grande/AL, Povo Xucuru Kariri – Palmeira dos Índios/AL, Projeto Casa de Oficio Piranhas, Projeto Cultura de Paz, Quilombola do Brejão dos Negros, Quilombola Mucambo, Quilombolas Serra da Guia, Raízes, SINTESE/SE, SINTEPE/PE, STR de Pão de Açúcar – AL, STR de Paulo Afonso – BA, STR de Penedo, SINDIPETRO SE/AL, SINTES/SE, SINDICAGESE/SE.

segunda-feira, março 24, 2008

1º de Abril

Dia da mentira do governo e da Verdade do Povo
Transposição, Quem tem sede não se engana!

O governo com freqüência repete mentiras sobre o projeto de transposição de águas do rio São Francisco: água para 12 milhões de pessoas; reforma agrária ao longo dos canais, retirar apenas 1,4% da água; falta de manifestações contrárias; acabar com o êxodo rural e que o rio está saudável e pujante.

A verdade é que não existem obras previstas para levar água às comunidades próximas ou distantes dos canais. A água é para beneficiar os poderosos do agronegócio. São 70% para atender a irrigação e criação de camarão pra exportação, 26% para siderurgia e abastecimento urbano, apenas 4% seria para a população espalhada nas caatingas.

A maior parte das regiões por onde passariam os canais possuem solos rasos e rochosos, o que exige uma agricultura adaptada e sustentável, como propõe os princípios da agroecologia, mas, o governo nunca quis fazer reforma agrária nem incentivar a agricultura camponesa no semi-árido.

Os custos do projeto deverão ser arcados pelos consumidores de água no meio urbano das grandes cidades do Nordeste, nas contas domestica, através do subsidio cruzado. Entre os 44 impactos possíveis, pelo menos 36 seriam negativos. A licença do Ibama e a outorga da ANA são ilegais, contrariando a Política Nacional de Recursos Hídricos e desrespeitam a decisão do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco.

O rio está pedindo socorro e mostra suas entranhas com uma vazão de 1.100m3s, as populações do Baixo São Francisco sofre com um rio assoreado e reduzido a 1/3 da sua largura normal em vários pontos, suas águas estão abaixo do mínimo estabelecido, 70% da vazão são para a produção de energia. As populações sofrem com a falta de água, a reprodução de peixes está em situação de risco para os próximos 20 anos, a salina aumenta em sua foz por causa do avanço do mar. Tudo isso, com a omissão e submissão de todos os órgãos públicos responsável pela gestão de suas águas. O governo trata com profundo desprezo e desrespeito a população do baixo São Francisco e o seu meio ambiente, pra justificar a transposição a qualquer custo.

Contestaram a obra: o Tribunal de Contas da União, Ministério Publico Federal e nos Estados, Banco Mundial, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, além das inúmeras pessoas e entidades em manifestações, protestos e tentativas de dialogo. Mas, o governo mantém as mentiras e não cumprem acordos firmados, um exemplo foi como o bispo Dom Luiz Cappio.

Mas, existem alternativas mais baratas e mais eficientes para o semi-árido nordestino. O “Atlas Nordeste” da Agencia Nacional de Águas, sugere 530 obras para captar e distribuir água para 34 milhões de habitantes de 9 Estados, pela metade do preço da transposição. Para a população espalhadas nas caatingas, a Articulação do Semi-Árido propõe dezenas de tecnologias apropriadas para acesso e uso da água.

O governo do presidente Lula, do ministro Geddel Vieira e de aliados como o deputado Ciro Gomes, mente para a população. Não se deixe enganar! Transposição, quem tem sede não apóia.


São Francisco Vivo: Terra, Água, Rio e Povo!

Fórum de Articulação Popular do Baixo São Francisco: organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais.
baixosaofrancisco@gmail.com

domingo, março 23, 2008

MALHAR JUDAS OU MALHAR JESUS?

Claudio Ubiratan Gonçalves[1]

A malhação do Judas é um costume trazido pelos ibéricos desde os primeiros séculos de colonização e se estende até hoje, embora, esteja mais restrita as pequenas e médias cidades do imenso Brasil. A malhação, queimação ou enforcamento ocorrem geralmente em praça pública no sábado de aleluia num misto entre sagrado e profano, visto que em plena semana santa ocorre a exorcização do mal. Mal este que é captado pelo sentimento coletivo em torno de algo que desperta indignação, aversão, raiva e até cólera. Assim, a ira despertada através de pequeno grupo que inicia a brincadeira encontra eco, contagia várias pessoas e o sentimento passa a ser legitimado coletivamente pela comunidade dos participantes. Após julgamento, condenação, leitura do testamento do boneco-traidor ocorre a execução do Judas. Em ano de copa do mundo pode ser um técnico da seleção como foi em 1982 com Telê Santana, políticos corruptos como ACM, Maluf ou os anões do orçamento que também já foram alvo dos brincantes.
Neste sentido, a polêmica recente no sul do Ceará, envolvendo a personificação da figura do Judas Iscariotes no religioso franciscano D. Luis Cappio, representa a total inversão de valores que a pós-modernidade encarregou-se de difundir. Judas é o apóstolo traidor e obcecado por dinheiro. A não diferenciação entre os campos econômico e cultural marca profundamente o tempo em que vivemos, onde a forma da produção de mercadorias e a alta especulação financeira tornaram-se o cultural, bem como a cultura tornou-se profundamente econômica orientada para produção de mercadorias, como salienta o Prof. Fredric Jameson da Duke University. Neste aspecto, a confusão entre os valores econômico, cultural e também político está diretamente relacionada com a ação da Fundação do Folclore Mestre Elói, sediada em Crato no Ceará, responsável pela votação popular da eleição do Judas da semana santa. Foi uma votação tendenciosa onde o primeiro nome impresso da lista foi o de D. Cappio, seguido de comentários que influenciavam o eleitor colocando o bispo como inimigo dos cearenses pela sua posição contrária ao projeto de transposição das águas do rio São Francisco. O religioso foi colocado ao lado de carrascos e bandidos do porte de Hitler, Fernandinho Beira-mar, George Bush, dentre outros. Atitude sobretudo, insolente!
A sátira oportuna e recheada de humor do apóstolo que perde a fé e vende seu mestre por míseras 30 moedas, não reflete a realidade de luta e abnegação de D. Cappio, bispo de Barra na Bahia que vive as margens do rio São Francisco, dedicado à defesa do povo ribeirinho daqueles grotões do sertão. Sertão esse à margem das políticas públicas, dos inúmeros Judas inescrupulosos que vêem no povo sanfranciscano, reserva de mão-de-obra ou mais um número na contabilidade eleitoral. É lamentável como alguns promotores culturais se aproveitam das tradições históricas para confundir e manipular a opinião pública. É empobrecedor para a cultura popular, utilizando-a para fins escusos. Creio não ser esta a melhor forma de chamar atenção para um projeto tão autoritário quanto ineficaz para o semi-árido brasileiro como o da transposição do São Francisco. Deixemos o bispo seguir seu caminho no exemplo de Jesus e malhemos os verdadeiros Judas-traidor, que são os políticos e técnicos que defendem essa falácia da transposição.
[1] O autor é cearense e atualmente reside em Sergipe. Geógrafo e Professor da Universidade Federal de Sergipe.

quarta-feira, março 19, 2008

Dia da Mentira do Governo e da Verdade do Povo!


1º de abril
Mobilização nacional contra as mentiras do governo Lula e seus aliados

O 1º de abril que é popularmente conhecido como o “dia da mentira”, esse ano ganhará, também, mais um significado: será um dia nacional de luta contra as mentiras do governo Lula e seus aliados que mentem e enganam os trabalhadores brasileiros.
Vamos dizer um NÃO a grande mentira que é a transposição do Rio São Francisco que vai beneficiar os grandes latifundiários enquanto a população que de fato precisa de água vai continuar com sede.
Os aliados de Lula também mentem, a exemplo da GM que tentou impor o banco de horas em São José dos Campos prometendo 600 novos empregos com salários rebaixados. Os trabalhadores não vacilaram e disseram a um grande NÃO a essa mentira. Queremos os 600 empregos sem redução dos salários e sem o banco de horas.
Por essas e outras mentiras, vamos realizar mobilizações em todo país. Vamos à luta.

Sergipe e Alagoas realizarão mobilização unificada no dia 1º de abril

No dia 15 de março, aconteceu em Penedo/AL a reunião de planejamento das lutas na região do Baixo São Francisco. Foi uma reunião bastante representativa, vários movimentos e entidades estiveram presentes na elaboração do calendário de luta. Foi realizada uma avaliação das atividades realizadas no ano passado e debatidas as perspectivas para este ano. Toda a discussão foi realizada a partir das resoluções da Conferência dos Povos do Nordeste e do Semi-árido realizada em Sobradinho/BA, em fevereiro deste ano.
A atividade do dia 1º de abril foi a principal atividade definida para o próximo período. Nesse dia, os movimentos sociais e entidades do Baixo São Francisco realizarão uma mobilização às margens do Rio São Francisco, na cidade de Propriá/SE, na divisa com o Estado de Alagoas.


Fortalecer a Articulação Popular do Baixo São Francisco

A Articulação Popular do Baixo São Francisco surgiu no ano de 2005. Hoje, aglutina mais de setenta movimentos, entidades e povos indígenas, remanescentes de quilombo, comunidades de pescadores artesanais, assentamentos e acampamentos de reforma agrária, reassentados atingidos por barragens da região do Baixo São Francisco (BA/PE/AL/SE). Todos procurando a superação da fragmentação e a junção das forças num grande movimento pela Vida do São Francisco. A defesa do Rio São Francisco e a luta contra a transposição é a bandeira que unifica todos esses movimentos. A CONLUTAS e o SINDIPETRO AL/SE se somam nessa luta, no fortalecimento da Articulação do Baixo São Francisco e na organização do núcleos/comitês de base na defesa do Velho Chico.


1º de Abril

ATO: “Dia das mentiras do governo Lula e da verdade dos Movimentos Sociais”

Local: Cidade de Propiá/SE

Hora: às 9h

Realização: Articulação Popular do Baixo São Francisco, CONLUTAS, CPP, CPT, MPA, Sindipetro AL/SE, PSTU, Sindicagese/SE, Sintes/SE

domingo, fevereiro 17, 2008

Rio mostra entranhas

Vazão de 1.100m3/s provoca agonia do Baixo São Francisco

O Baixo São Francisco sofre agonia com vazão de 1.100m3/s e mostra suas vísceras. Autorizada pelo IBAMA e a ANA e operacionalizada pela Chesf as barragens operam com sua capacidade abaixo do nível do que foi o apagão. Sem nenhuma responsabilidade ambiental da política de recursos hídricos, as questões relacionadas à vazão ecológica não fazem parte da legislação ambiental neste país, nem se quer são considerados pelos órgãos do governo federal. As regras são definidas a partir dos interesses energéticos que garantam seguranças de suprimento elétrico com um marco regulatório estável para as empresas que dela sobrevivem.

Por esta razão, a mudança marcante conseqüentes da operação de baixo fluxo do Rio neste período é vista agora a olho nu. A baixa quantidade compromete drasticamente a qualidade da água e compromete a biodiversidade ao longo do rio. A perda na reprodução do pescado, por exemplo, se dá não apenas pela alteração do fluxo de água, mas, pelas conseqüências da mesma. 1.100m3/s significam alteração drástica das funções dos ecossistemas aquáticos: produção, decomposição de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e redução da conectividade hidrológica.

Em reunião dia 15 de fevereiro deste na cidade de Propriá – SE, a Câmara Consultiva do Baixo São Francisco reuniu entidades da sociedade civil e órgãos do governo, que discutiram o assunto, segundo Dr. Eduardo Mattos – Promotor público “é impressionante o que diz os órgãos do governo, afirmam que está tudo bem, que não existe nenhum comprometimento de impactos na ictiofauna”. Todas as cidades e comunidades ribeirinhas estão afetas, que seja pelo nível de mortandade de peixes que estão em período de reprodução e não têm lugar para fazer a desova, que seja pelo racionamento drástico das adutoras que abastecem cidades como Arapiraca e já estão completamente comprometidas. O Ministério Publico vem considerando essa situação uma improbidade administrativa e acionou ação civil publica.

A água em si é um elemento da natureza mais abrangente e possui funções de sustentabilidade ecológica, de preservação da fauna e de flora, e aspectos de natureza religiosa, mística e até poética. Mas, a autoridade governamental se manifesta sobre o uso dos recursos hídricos apenas sobre o ponto de vista econômico da sociedade, ou seja, se existe interferência nos recursos hídricos (qualidade, quantidade e regime) do ponto de vista ecológico não existe nenhum respeito no seu enquadramento. É o que ocorre agora com o Velho Chico.

“Nós da comunidade Resina na Foz do São Francisco já estamos consumindo água salgada do mar”, disse uma moradora da comunidade. O rio precisa cumprir sua função ecológica e chegar até o mar, mas, é o mar que vem engolindo o Rio. O argumento do governo de que só será retirado 1% da água que se “desperdiça” no mar para realizar a transposição não passa de uma enorme enganação. A realidade mostra que não existe preocupação nenhuma do governo com o Rio São Francisco e comete inúmeros crimes ambientais, a começar pelo projeto de transposição, passando pelas mentiras de uma revitalização fictícia.

Alzení Tomáz
CPP NE – Conselho Pastoral dos Pescadores
Articulação Popular do Baixo São Francisco
Paulo Afonso - 16/02/08

quarta-feira, dezembro 26, 2007

...E Ecoou a Voz de Um Profeta nas barrancas do Velho Chico.



D. Frei Luiz Flávio Cappio

O JEJUM E ORAÇÃO QUE ACABARÁ COM A TRANSPOSIÇÃO


Paulo César Moreira Santos


Durante os dias 27 de novembro à 20 de dezembro o nosso Brasil e grande parte do mundo pôde acompanhar a atitude tão polêmica de um bispo que, baseado no evangelho, acredita que os grandes demônios podem ser vencidos e que a melhor resposta para a irracionalidade de nossa época é a loucura por isso, pela segunda vez, decidiu iniciar um período de jejum e oração como protesto e resistência, doando a vida, se necessário, pela vida do rio São Francisco e pela vida do seu povo. Dom Luiz Cappio é bispo da diocese da Barra-Ba, no Nordeste do Brasil.

O motivo, também já conhecido por nós, é a sua radical oposição ao projeto de transposição do Rio São Francisco, um mega projeto encabeçado pelo governo federal e assediado por grandes empresários e empreiteiras, em que se construiu a cruel ilusão de que a obra irá mudar a vida do povo pobre que passa sede, pretendendo assegurar água para 12 milhões de brasileiros que vivem no semi-árido. É uma obra faraônica, que gastará mais cimento do que se gastou na construção do muro de Berlim, quando se dividiu a Alemanha em dois blocos.

Serão 720 quilômetros de canais artificiais em concreto armado nos dois eixos principais do projeto, segundo o relatório de impacto ambiental da obra. Mas no total serão mais de dois mil km de canais incluindo o uso de leitos secos. Águas que precisarão ser continuamente bombeadas do São Francisco com elevado gasto energético.

Muitos estudiosos e pesquisadores, dentre eles Alberto Daker, especialista em hidrologia e Apolo Heringer Lisboa, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, apontam sérios problemas de cunho ambiental, econômico, político e social que surgirão, além de não resolver os próprios problemas a que se propõe. Entres os principais problemas podemos citar o desvio de um rio degradado, a construção de barragens para controlar sua vazão, a supressão de mata nativa, a mudança no regime de cheias do rio, prejudicando a fauna, como também populações esperançosas mediante a promessa de uma água que não pode chegar a seu destino e da promessa da reforma agrária, o risco da migração de populações para as áreas próximas aos canais, sem poder ser atendidas por essas águas, populações que dependem da pesca no São Francisco, que será prejudicada pela construção de barragens.

A ANA, Agência Nacional de Águas, instituição ligada ao próprio Governo Federal apresentou detalhadamente uma série de alternativas técnicas que possibilitariam a garantia da oferta de água para não apenas no semi-árido nordestino, mas em todos os nove estados do Nordeste e também no norte de Minas Gerais. Ao todo seriam 34 milhões de pessoas beneficiadas a um custo bem menos do que o da transposição, e isso não foi levado em conta.

O projeto atinge ainda, de forma direta e indireta, mais de 40 aldeias indígenas que vivem nas regiões da bacia do São Francisco, tornando-o totalmente inconstitucional, uma vez que não foram consultados os próprios indígenas e muito menos tramitado pelo Congresso Nacional, instância responsável. Sobre as irregularidades, que são muitas, há bastante material importante e esclarecedor que se pode consultar.

O fato é que um franciscano que mora há mais de trinta anos na beira do rio, que o conhece muito bem, ao rio e à população que depende dele pra sobreviver, decidiu pela segunda vez arriscar a sua vida para que esse projeto pudesse ser paralisado, conhecido e debatido com o povo brasileiro, proposta firmada e não cumprida pelo governo desde o primeiro jejum, que durou onze dias. Profundamente insatisfeito com isso e com o fato das obras terem iniciado, no dia 27 de novembro de 2007 Dom Luiz dá início a um período indeterminado de jejum e oração.

A cidade escolhida foi Sobradinho, na Bahia, um lugar eternamente marcado pela construção da barragem que leva o mesmo nome e onde sucedeu um dos maiores exílios forçados do Brasil, 70 mil pessoas. Na capela da comunidade de São Francisco o frei Luiz iniciou seu protesto, no silêncio e no isolamento. Imediatamente recebeu o apoio do povo e dos movimentos sociais que desde o primeiro dia o acompanhou. Por vários dias quem conversava com ele não percebia o sofrimento que deveria estar passando, isso pela alegria e pela esperança que transmitia à todos e todas que vinham ao seu encontro. Mais de uma vez o escutei corrigindo pessoas que coordenavam as visitas, dizendo: “trate cada pessoa como se fosse uma flor”.

A pequena igreja foi cercada de acampamentos dos vários movimentos que trabalhavam dia e noite pra articular tudo o que acontecia em torno do gesto do frei, cuidar da segurança do espaço, armar barracas pra receber as várias romarias, receber os diversos apoios que foram se avolumando de dentro e fora do Brasil, receber diversas personalidades como Letícia Sabatela, Eduardo Suplicy, João Pedro Stedile, José Comblim, Heloísa Helena e outros. Tudo isso exigia muito esforço e articulação, o que não faltou por parte dos que lá estavam, CPT, MST, MPA, MAB, IRPA, dentre outros movimentos, também vários religiosos e religiosas e padres. Mais de 120 representações de movimentos sociais compareceram na Romaria do dia 10 de dezembro, juntando mais de 6 mil pessoas.

Foram dias de uma intensidade indescritível em que todos se concentravam na esperança de um desfecho justo. No final de cada dia celebrávamos a Eucaristia, onde se vivenciava naturalmente o cume da luta do dia, eram momentos de oração, de mística e também de um pouco de formação, e onde eram celebrados e anunciados os diversos apoios que chegavam de toda a parte do mundo, havia muita ressurreição.

O que mais assustava era a corrida contra o tempo, o isolamento e a indiferença do governo e da mídia, que literalmente decidiram bloquear a atitude do Frei Luiz. Somente a partir do décimo quinto dia que a igreja enquanto instituição ou enquanto colégio dos bispos, uma vez que o frei Luiz faz parte dele, demonstrou preocupação. Felizmente a CNBB escreveu uma carta de apoio explícito, condenando o projeto de transposição.

Vários protestos se espalharam por todo o Brasil e vários grupos aderiam ao jejum e à oração. Mas, se de um lado havia uma crescente conscientização e solidariedade frente a gravidade do problema, do outro tínhamos um governo frio e antidemocrático, que utilizou o próprio exército brasileiro como instrumento de cooptação e militarização do Estado. O Ministro Gedel Vieira, que era contra o projeto até se tornar ministro, tentou de todas as formas banalizar a atitude do bispo.

Dom Luiz se manteve sempre esperançoso e fisicamente não muito fraco até o décimo nono dia, após isso se percebeu uma fraqueza significativa, diminuindo bastante o seu contato com o povo e com a imprensa. Para ele e para todos nós a expectativa estava na reunião dos ministros do STF, que aconteceria no dia 19, data em que se completaria o seu vigésimo quarto dia de jejum. Todos sentimos que ele se esforçou muito para suportar até esse dia, na viva espera de que um projeto com tantas irregularidades, com tantos impactos sobre a natureza e sobre a vida do povo pobre, um projeto que irá apenas alimentar a “indústria da seca”, não pudesse ser aprovado por responsáveis pelo cumprimento da justiça em nosso país.

A notícia que nos chegou foi de um impacto quase mortal, a liminar que paralisava a obra foi derrubada e a ação do procurador geral da justiça que ia de encontro ao parecer do hoje aposentado ministro Sepúlveda Pertence sobre as 14 liminares, ainda a serem julgadas em seu mérito, foi votado a favor dos interesses do governo. No primeiro momento o sentimento de frustração foi total e todos fomos tomados pela preocupação com a vida do nosso bispo. Ele, logo ao saber se chocou profundamente e o que se percebeu é que não tinha mais força física e nem psicológica para continuar suportando, chegando ao ponto do desmaio: “A minha grande dor é que os pobres nunca vencem...” foi o que pronunciou vinte minutos antes de desmaiar.

Ele ficou mais de duas horas e meia em estado de semi-inconsciência, momento em que o médico, frei Klaus, juntamente com a família decidiram conduzi-lo ao hospital de Petrolina, onde foi internado na UTI. A reação do povo foi imediata, demonstravam muita preocupação e indignação, muita gente foi para a capela para ver o frei, e em oração, cantos e lágrimas todos acompanharam a sua saída da Sacristia para a ambulância. Enquanto isso o governo se mostrava irredutível, ou melhor, a situação quanto ao diálogo se agravou após a decisão do STF.
Depois de uma séria avaliação os movimentos sociais, num glorioso gesto de valorização da vida, pediram encarecidamente ao frei que abdicasse do jejum, apostando e gastando suas forças junto a luta e a mobilização da sociedade organizada. Refletiram que há muito caminho a percorrer e o frei é um testemunho e símbolo fundamental nesta batalha, por isso a sua vida é demais importante para o nosso país.

Após ter saído da UTI, Dom Luiz, ainda muito fraco pede licença ao hospital para voltar a sobradinho e rever o povo que esteve todo o tempo ao seu lado. Foi conduzido numa cadeira de rodas, na ambulância da UTI, ainda em jejum, somente recebendo o soro.
Às 19 horas todo o povo o esperava para uma celebração campal, dois bispos e vários padres estavam presentes, dentre eles o seu grande amigo, José Comblim. Foi uma celebração simples e de extrema vivencialidade, onde se leu a carta finalizando o período do jejum. Ao fim da celebração fez-se uma positiva avaliação do todo o acontecimento.

De tudo isso ficou evidente pra todos nós pelo menos cinco pontos:
1 – a fragilidade do nosso processo democrático, onde o poder executivo desconsidera as leis do seu próprio estado.
2 – a necessidade de maior sintonia e articulação da sociedade e movimentos sociais, frente a problemas vinculados à soberania de um povo.
3 – o poder da mídia e a manipulação desse pelo governo e pelas elites brasileira, inclusive as TVs católicas, que omitiram o fato por vários dias.
4 – o aprisionamento diplomático e burocrático da igreja, que provocou angústia nos cristãos e cristãs, que esperavam desde o início um apoio profético. A carta da CNBB, apesar de tardia, teve sua grande importância.
5 – e que ainda há muito o que percorrer, pois a transposição é apenas um ponto dentro da estratégia de dominação do capital sobre a vida humana e a natureza.

Portanto, fica pra nós, igreja, sociedade e movimentos sociais, a desafiante tarefa de levar á frente essa luta, ir em direção ao caminho que frei Luiz nos aponta e estar sempre em alerta à gravidade da situação que estamos vivenciando, transposição de nossos rios, destruição da Amazônia, privatizações de empresas estatais e bens naturais.

Se persistirmos no jejum contra o capital e contra o consumismo e na oração contra a eficácia pragmática do nosso sistema, a luta cotidiana ganhará uma nova dimensão e juntos sonharemos com o fim dos demônios.