Cinco mil pessoas caminharam das 8 da noite do sábado até às 4 da manhã do Domingo em Sobradinho. Terminamos às margens do São Francisco, repartindo o pão. Caminharam conosco D.Cappio, D. Tomás Balduino, Gilberto Miranda (Movimento dos Artistas), Laura Vargas (representante da Pax Christi), representantes de igrejas, movimentos, de índios, quilombolas, pescadores. Uma caminhada bonita, com música, sob o luar do sertão e do brilho da Via Láctea.
Poucos metros à frente estava o Exército, ocupando a parede da barragem de Sobradinho. É surrealista que um governo coloque continuamente o Exército para assustar índios, quilombolas, ribeirinhos, trabalhadores rurais, lideranças que sempre votaram nesse governo. Talvez seja uma forma nobre de responder a todos aqueles que se rebelam contra uma obra injusta que faz como vítima – sempre – exatamente os setores mais oprimidos da história do Brasil em todas as épocas.
Enquanto caminhávamos aqui os franciscanos entregavam a Lula uma carta contra o etanol e a transposição do São Francisco. Sinal que os irmãos de Francisco estão afim de recuperar o carisma de seu fundador.
A festa continua, a caminhada também. Dias de reflexão sobre o futuro desse país e da humanidade virão necessariamente, por bem ou por mal. O cérebro ossificado dos governantes atuais e do grande capital não tem futuro. Podem ter certeza, nós estaremos presentes e a defesa do São Francisco não é moda passageira. Água para todos os nordestinos e comida na mesa do povo continuam nossas bandeiras irrenunciáveis. Na hora certa voltaremos.
A AGENDHA tem o prazer de convidar as Instituições Parceiras, amigos e amigas a
visitarem a Sala Caatinga Cerrado Transamérica Expo Center, em São Paulo, no dias 23, 24 e 25 de outubro de 2008, na qual 12 Organizações da Bodega de Produtos Sustentáveis do Bioma Caatinga, estarão, dentre outras, expondo seus Produtos da Sociobiodiversidade Caatingueira:
Associação de Artesãos de Santa Brígida
Associação das Artesãs do Sítio Pitombe Associação dos Artesãos do Sertão Pernambucano Associação Quilombola de Conceição das Crioulas Associação das Mulheres Rurais Sítio Macaúba Carnaúba Viva/RN Cooperativa Agropecuária do Pólo de Remanso Cooperativa de Agricultores Familiares do Nordeste da Bahia/BA Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá/BA Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina/BA Grupo Inspiração Feminina/BA Plantus Fitoterápicos e Fitocosméticos
Sejam bem vindos/as a sala de produtos com sabores, belezas, dedicação e sustentabilidade. Para saber mais visite os sítios: www.exposustentat.com.br.
Esperando para um abraço caatingueiro, portanto, caloroso.
Edvalda Pereira Torres Lins Aroucha Coordenadora da AGENDHA e da Bodega de Produtos Sustentáveis do Bioma Caatinga
Ainda que por um dia, 18, D. Luís Cáppio voltará a Sobradinho e voltará ao jejum. Com ele um incontável número de pessoas ao redor do mundo, articuladas na Via Campesina, numa jornada de jejum contra a fome, a partir do dia 16. Nós, aqui no São Francisco, incluímos também na causa o jejum contra a insegurança hídrica, que vitima 1,2 bilhão de pessoas na Terra, 300 milhões a mais que a fome.
Nessa data D. Luís receberá o prêmio de direitos humanos concedido pela Pax Christi International, por sua defesa do rio São Francisco e do povo que habita sua bacia. Com o bispo serão homenageados todos aqueles que lutam pela defesa do rio.
Nossa jornada também começa no dia 16, com uma sessão na câmara de vereadores de Sobradinho. No dia 17 um seminário sobre a realidade do rio e do semi-árido. No dia 18 o jejum e uma celebração ecumênica pela boca da noite. A partir das 20 horas, uma romaria da capela ao rio São Francisco, quando acontecerá a entrega do prêmio, concluindo com o show musical pela madrugada. Uma festa, uma celebração, uma caminhada.
Vamos relembrar ao governo brasileiro – e ao povo brasileiro – que jamais esqueceremos que a transposição continua de pé e que as adutoras para abastecer com água as populações abandonadas do semi-árido não estão sendo feitas. Vamos lembrar que o governo retirou a construção das cisternas das mãos da sociedade civil para entregá-las aos governadores, que as utilizaram fartamente para suas finalidades eleitoreiras nessas eleições. Vamos lembrar que não se brinca com a sede humana, não se manipula as necessidades primárias das pessoas para fins eleitoreiros. Vamos sinalizar que não mudamos de pensamento e atitude. Nossa luta continua de pé e, dessa vez, o jejum será por apenas um dia.
Temos que olhar esse país de frente. Não queremos que ele se transforme numa cratera lunar, cheia de rios mortos, buracos de mineração e florestas devastadas. É o modelo fundamental de desenvolvimento que está em jogo. Diante da crise ambiental que ameaça a comunidade da vida, essa crise financeira dos mercados é absolutamente irrelevante. Não estamos olhando a árvore, mas a floresta.
Que aqueles que têm sensibilidade e respeito pela comunidade da vida, somem-se a esse gesto internacional, nessa jornada internacional contra a fome, contra a sede, em defesa de nossos rios, particularmente o São Francisco.
As grandes redes de comunicação têm veiculado permanente a crise das instituições financeiras dos Estados Unidos. Esse fato, por si só, requer uma profunda reflexão sobre as bases do modelo econômico em curso, o liberalismo econômico de Adam Smith, onde a “mão invisível” do mercado seria capaz de promover a felicidade para toda a humanidade. Contraditoriamente, para salvar a quebradeira, as “autoridades” no assunto clamam pela aprovação de 850 bilhões de dólares, que significa a intervenção do Estado na economia - a imagem melancólica do presidente Bush, de pires na mão (tão visível!), apelando ao Congresso Americano a aprovação do pacote, põe por terra a ideologia liberalizante da economia.
Nas últimas décadas, a ideologia neoliberal tornou-se onipresente por todas as partes do mundo, destacando-se como grande centro de divulgação os países ricos ou os de importância geopolítica na periferia. Do lado das grandes economias capitalistas, encontram-se os Estados Unidos e a Inglaterra e, na América Latina, seus aliados, a ditadura de Pinochet no Chile, o México de Salinas, o Peru de Fugimore e, posteriormente, o Brasil da era Collor e Fernando Henrique Cardoso.
Os fundamentos dessa teoria foram cultivados por quase meio século pela Escola de Chicago, tendo como expoentes teóricos, Milton Friedman e F. Von Hayec,e seus executores políticos, o então presidente americano, o cawboy hollyoodeano Ronald Reagan, e a ex-primeira ministra, a dama-de-ferro, Margaret Thatcher.
Entretanto, mesmo que o prefixo latino neo compõe a nomenclatura, o modelo remete ao século XVIII, com o economista escocês Adam Smith. Teórico do liberalismo econômico (laissez faire, laissez passer) defendia o mercado como princípio de desenvolvimento das nações – publicou o livro “A Riqueza das Nações” -, como única via capaz de resolver os problemas e construir o futuro da humanidade. Basicamente, a teoria tem como dogma a lei da oferta e da procura, retirando a intervenção do Estado na economia. Desde então, esse modelo de produção é estudado em academias, debatido nos parlamentos e veiculado nos grandes meios de comunicação ao redor do mundo.
No século XIX, em plena ampliação do desenvolvimento industrial e, em conseqüência, o fortalecimento do poder da burguesia, significativas parcelas da população européia encontravam-se desempregadas, atoladas na miséria e na violência. Enquanto que a concentração de renda asfixiava a maioria, o capitalismo crescia. Nesse contexto social, emerge a crítica marxista ao modelo capitalista e o papa Leão XIII, com a Encíclica Rerum Novarum, condenando o liberalismo econômico.
Em 1929 surge uma crise profunda no sistema capitalista, colocando para baixo a tese de que a economia era capaz de regular-se por si mesma. No início da década de 1980, países europeus aderiram ao receituário liberalizante. Depois da queda do Muro de Berlim, a onda espalhou-se e se instalou hegemonicamente mundo afora.
Agora, passado a onda, “o rei está nu”. Os impérios estão desmoronando-se junto com o modelo de economia. As grandes economias européias buscam alternativas independes dos Estados Unidos. Ou seja, com o vulcão em chamas, vale o velho ditado: “salve-se quem puder!”.
Foto dos representantes das delegações presentes no Seminário.
Pescadores e Pescadoras Artesanais dos municípios de: Petrolândia, Jatobá, Serrita, Parnamirim, Floresta, Itacuruba, Belém do São Francisco, Serra Talhada e Cabrobó, representando as regiões de Itaparica, Brígida, Moxotó e Pajeú – Bacia do São Francisco em Pernambuco, reunidos em Petrolândia com apoio da FASE/SAAP e do CPP/NE durante a realização do II Seminário da Pesca Artesanal do Lago de Itaparica, teve com lema: Sustentabilidade Ambiental e Organização Social. O Seminário ocorre no período de 26 a 28 de setembro de 2008 e reuniu mais de 150 pescadores e pescadoras artesanais.
O objetivo foi o de contribuir para o fortalecimento da articulação das Colônias de Pescadores da região e para a atuação democrática das comunidades pesqueiras no processo de gestão dos recursos pesqueiros de forma coletiva e democrática.
Durante os 03 dias de encontro refletimos sobre a Identidade Pesqueira Artesanal, Conquista dos Territórios Pesqueiros Tradicionais, Ordenamento da Pesca na Região do rio São Francisco e seus Afluentes, Recadastramento dos Pescadores / Pescadoras da Região, Transposição do rio São Francisco e os Impactos na Atividade Pesqueira Artesanal na região do Submédio São Francisco em Pernambuco.
Podemos citar como pontos altos das discussões: O processo de recadastramento dos pescadores iniciado pela Colônia de Pescadores Z – 23 de Petrolândia, que vêm servir de exemplo e estímulos para as demais colônias de pescadores da região, no processo de organização da categoria. O uso do Arpão na pescaria também foi ponto de debate durante a realização desse encontro, onde foi refletido pelos presentes que o uso desses apetrechos na pesca prejudica o desenvolvimento das demais artes de pesca, além de por em risco o equilíbrio das espécies caçadas.
Com a criação do CGPASF – Comitê Gestão da Pesca Artesanal na Bacia do rio São Francisco (Gerido pelo IBAMA), foi referendado pelos presentes o encaminhamento saído da reunião realizada em 03/09/2008 na cidade de Ibimirim que indicou os pescadores: Américo Gomes Silva, da Colônia de Pescadores Z – 27 de Belém do São Francisco e opescador José Joaquim da Silva, da Colônia de Pescadores Z – 29 de Floresta, para representar os pescadores e pescadoras da região no CGPASF. Os debates contribuíram para elevar o conhecimento dos pescadores e facilitar o fortalecimento da articulação entre as comunidades.
Enfim, lamentamos a ausência do representante da Superintendência do Ministério do Trabalho e Emprego de Pernambuco, como também da CHESF e INSS. Agradecemos a contribuição dispensada pelos demais, que contribuíram para a formação e democratização do conhecimento junto aos pescadores e pescadoras.
Petrolândia/PE, 28 de Setembro de 2008.
Colônia de Pescadores Z – 13 de Jatobá, Colônia de Pescadores Z – 23 de Petrolândia, Colônia de Pescadores Z – 26 de Itacuruba, Colônia de Pescadores Z – 27 de Belém do São Francisco, Colônia de PescadoresZ – 29 de Floresta, Colônia de Pescadores Z – 31 de Serrita, Colônia dos Pescadores Nossa Senhora Aparecida de Serra Talhada, Colônia dos Pescadores de Cabrobó, Pastoral dos Pescadores da Diocese de Floresta, PJ – Pastoral da Juventude do Município de Jatobá eCPP/NE – Conselho Pastoral dos Pescadores Nordeste.
Os projetos de usinas nucleares fazem parte da ampliação da matriz energética brasileira. O governo propõe a construção de usinas na região do semi-árido às margens do Rio São Francisco. Uma delas na região de Xingó na região do Baixo, com o pretexto de geração de emprego e crescimento econômico.
É preciso compreender melhor os riscos desta energia nuclear. É importante compreender como funciona a formação da energia nuclear: a rocha de urânio é um minério que extraído possuem componentes atômicos (prótons, elétrons e neutros) esses três componentes juntos possuem uma harmonia. Mas, para fazer a energia nuclear esses elementos são moídos, purificados e submetidos à reação química, ocorrendo uma desagregação dos elementos atômicos. Junto a esses três elementos são colocados outros elementos como o césio, por exemplo, que gera um calor, chamado de energia térmica. Esse calor, que é um combustível, vai para um reator que transforma a energia nuclear em energia térmica. Para tanto, esses reatores precisam de um fluxo de água intensa para fazer a refrigeração. A partir daí, ocorre o mesmo processo da usina hidrelétrica. O calor vaporiza a água e move a pá da turbina que acaba gerando a energia elétrica. Após três anos, 75% do urânio desaparecem e são substituídos pelos componentes que o destruíram gerando outro elemento químico altamente radiativo. A água que foi usada para resfriar os reatores volta aquecida ao rio e isso causará grandes impactos ao ecossistema.
Por ser uma energia cara, suja e perigosa, as termos nucleares, podem trazer risco e grandes catástrofes, com graves liberações de radioatividade. Desastres podem ocorrer, a exemplo de Chernobyl em 1996 causando milhares de mortes.
Os rejeitos nucleares é material contaminado de radioatividade. O lixo pode irradiar o que tiver ao seu redor. São de extrema gravidade para a saúde humana, animal e vegetal. A população que vive numa zona de usina nuclear está exposta a pequenas doses de radiação que provocam câncer, tumores, mutações, etc.
É em nome desse desenvolvimento gerando mais riquezas para as indústrias de energia elétrica, que o governo impõe esse tipo de projeto para o São Francisco, priorizando os aspectos econômicos do mercado de energia, em detrimento da segurança humana e do meio ambiente.
Conclusões da Reunião do Baixo São Francisco em 04 de Março de 2007. Piranhas/AL